Editorial – Abril de 2014
Celebrou-se a 23 de Abril mais um aniversário do Dia Mundial do Livro e dos
Direitos de Autor, efeméride que já se celebra há quase dezanove anos, depois
de instituída pela UNES-CO, em 1995. Com a data, pretende-se reconhecer a
importância e a utilidade dos livros, assim como incentivar hábitos de leitura
na população.
Na senda deste acontecimento, decidimos trazer à reflexão o papel que o livro cumpre no nosso sistema educativo e na sociedade em geral, que se quer dominadora da ciência e da técnica, para se tornar cada vez mais emancipada.
Conduziremos as linhas sequentes deste texto com apenas duas questões, cientes das diminutas palavras exigidas nele: Qual é o valor que o livro tem na nossa sociedade? Até que ponto o livro pode-nos libertar?
A resposta para a primeira pergunta é que o livro aqui não tem muito valor,
a avaliar (i) pelos exemplares que se cobrem de poeiras nas prateleiras das
livrarias por não serem comprados; (ii) pelo desinteresse que os “doutores”ou
aspirantes a eles têm de ler, pelo menos, um livro qualquer por completo (se o
conseguem, deve ser um livro com imagens) e (iii) pela péssima forma de
utilização e conservação dos livros disponíveis nas bibliotecas e os alocados a
alunos em diferentes níveis de ensino.
Os livros disponíveis nas livrarias não são comprados à mesma proporção das peças de vestuários ou objectos de adorno, da moda, disponíveis nas boutiques. Também não são comprados à proporção das bebidas da “primeira qualidade”. Ainda, não são comprados à mesma proporção dos carros luxuosos ou de alta cilindrada. Rapidamente, nota-se que se trata de questões de escolha, mas deve-se lembrar que quem fabrica tudo o que nós consumimos foi antes dominador do conhecimento, transportado por essa viatura de altíssima “cilindrada” e a mais barata, que é o livro.
Para a segunda e última questão, o livro, de certo, pode contribuir para libertação física e espiritual de qualquer um que seja. Que o diga a história, que já testemunhou inúmeros casos do género. O exemplo retumbante é recusa à educação a que a maioria dos africanos foi sujeita pelos então governos coloniais em inúmeros países. O que quer dizer que os então colonos estavam cientes do poder do livro e da educação, que rapidamente poderiam fazer-nos tomar a consciência e reivindicarmos as nossas liberdades ou sermos donos do nosso destino. E isso se verificou, quando alguns dos africanos escapuliram-se das amarras coloniais e foram estudar ou para os EUA ou para a França, países ora defensores das liberdades. E voltando, esses africanos, já intelectuais, como Eduardo Mondlane e Kwame Nkrumah, encabeçaram a independência dos seus países.
Entretanto, hoje já não temos colonização, mas continua a ser-nos negado o livro e a educação (entenda-se, a verdadeira educação) pelo conluio dos nossos decisores públicos e das nossas famílias. Os decisores públicos, por não nos aumentarem as salas de aula, por não nos darem os variados equipamentos e material didáctico, por não nos darem professores de qualidade e por não serem exigentes connosco. As famílias, é por não nos deixarem “sofrer”, dando-nos o que não é da nossa “idade”, festas a toda hora, carros, roupas da marca, celulares da última geração e viagens constantes, no lugar do livro e educação exigente, que nos fará andar com os nossos próprios pés e que não nos farão bater com o focinho na parede, quando os nossos pais se tornarem pobres, o que certamente deverá acontecer, pela lógica da vida.
Então, nessa altura,
teremos o livro, que nos permitirá a continuação dos seus feitos. (Redacção)
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