sábado, 6 de dezembro de 2014

“A falsa verdade” de que o livro não se vende


Editorial – Março de 2014

Escritor e pobre: basta apenas reunir estes dois adjectivos, para alguém tomar ciência do quanto é ingrato o serviço prestado pelas nossas editoras livrescas. De certo, comum é um escritor estreante aproximar-se de uma editora, para publicar, e receber a seguinte resposta, automática: tens que arranjar patrocínio, para publicarmos o teu livro. E esta automática resposta costuma ter uma sobremesa: aqui o livro não se vende. É mentira?

As editoras não estarão a mentir, quando dizem que o filho de um literato não vende. Não há elementos, para desmentir esta verdade. Tanto mais que a tiragem máxima do livro, em Moçambique, é de 1000 exemplares, reeditados, quando o escritor for demasiado premiado ou famoso. Não há como desmentir os nossos níveis baixos de literacia. Não há como desmentir a lastimável qualidade de muitos, que se sentaram nos mais altos bancos de escola, e se dizem doutores, dispostos a ocupar tudo, para nada fazer.

Mas, em face deste cenário, do livro menos vender, o que fazem as editoras, para inverter a situação? As editoras procuram explorar ao máximo os potenciais leitores, que certamente estão muito acima dos 1000? Parece que não. Repetimos: não. As nossas editoras pararam no tempo, e perderam o seu espaço. Elas têm tamanha dificuldade de se adaptarem às novas ordens da economia de mercado.

As nossas editoras pensam que o livro continua a ser o lixo para as moscas. Teimam em pensar que o livro literário continua a ser sacralizado, atraindo, por via disso, os leitores. Como acontece com a bíblia, atraente natural de devotos cristãos.

No pretérito, não mais que perfeito, ser escritor (que se expressasse em português) era uma raridade. Com razão. Pelas circunstâncias históricas sobejamente conhecidas, poucos eram os que sabiam ler e escrever em português. Entretanto, havia muitos moçambicanos, anónimos, que, em suas indígenas línguas, sabiam contar histórias, se calhar da melhor maneira. Lembre-se que há muitos dos nossos escritores actuais que roubam a esses anónimos histórias e formas de contá-las.

Hoje, as coisas mudaram. Os níveis de literacia aumentaram estupendamente. Os livros literários facilmente chegam aos leitores. Há relativa transmissão de experiências de escritores mais velhos aos mais novos. Por consequência, os escritores naturalmente brotam. Uns maus e outros bons, mas são necessários os dois grupos, para eventual comparação, e crescimento da literatura.

Havendo um relativo aumento de escritores e, consequentemente, dos livros literários, as editoras deviam posicionar-se doutra maneira, passando a ver, de facto, o livro como uma mercadoria. Queiramos ou não, o livro é uma mercadoria, sujeita a todo o tipo de estratégia de marketing, que o fará produto apetecível diante de um potencial cliente.

Tendo uma ambiciosa estratégia de marketing, as nossas editoras deixarão de se comportar como comissionistas, ganhando altas somas, por apenas ligar o escritor a uma gráfica, que poderá realizar o seu sonho, de ver um livro seu impresso e editado.

É preciso que as editoras publicitem o livro, na televisão, na rádio, no jornal, etc., assim como acontece com o álbum de música, publicitado, com muita antecedência, antes do seu lançamento. As editoras também podem promover concursos literários, que as podem ligar aos mais novos leitores e escritores. Ainda, devem ter ao seu serviço um grupo de críticos literários, remunerados, para falarem dos livros. E muito mais.
Esperamos que as editoras se transformem, e deixem de içar a bandeira do patrocínio para os novos escritores, e de viver de mãos estendidas! (Redacção)

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