Ele chama-se Lino Mukurruza. Quem…? Lino, aquele que pela Literatas perfumava o Moçambique e o mundo
com os seus poemas instigantes e intrigantes. É ele que também se ocupa do
activismo literário no Clube de Escritores e Poetas Amigos do Niassa (CEPAN).
Ora, ele veio com parte dos seus poemas reunidos e apresentados como se fossem
vontades de partir para onde o próprio autor mal sabe.
Lino lançou no dia 28 de Fevereiro de 2014, no Instituto Camões, em Maputo, o seu livro de estreia, nominado “Vontades de Partir e Outros Desejos”. Então, por essa e outras desconhecidas motivações, a Soletras foi no encalço do poeta para prestar declarações nas suas páginas.
Lino lançou no dia 28 de Fevereiro de 2014, no Instituto Camões, em Maputo, o seu livro de estreia, nominado “Vontades de Partir e Outros Desejos”. Então, por essa e outras desconhecidas motivações, a Soletras foi no encalço do poeta para prestar declarações nas suas páginas.
Soletras: Quem é mesmo Lino Mukurruza
Lino: Sou um jovem, à semelhança de vários
outros jovens deste país. Nasci em Lichinga, a 4 de Maio de ano incógnito.
Começo a escrever no novo milénio. Nessa altura, ingresso em movimento, que mexia com a
literatura. No único movimento, que existia, na altura, na escola de Comboni,
arredores de Quelimane. Então fui publicando algumas coisinhas, num jornal que
lá existia. Eu e outros jovens publicávamos contos, fábulas e poesias. Depois,
por algumas razões, decido voltar à terra natal, Lichinga, porque os meus pais
viviam lá. Em 2008, ingresso no clube de escritores e poetas amigos de Niassa,
Cepan. Esse clube havia surgido, uns anos atrás, concretamente em 2003, e os
seus objectivos eram óbvios: divulgação da literatura e também fazer emergir novos autores. Eu interessei-me, com o propósito deles, e ingressei
no clube, para dar o meu contributo à província. E também puder crescer, ao
nível da poesia.
Soletras:
Atendendo que estava a iniciar a carreira, quais foram as pessoas que o
ajudaram a ler, a comentar os seus textos, para seu crescimento?
Lino: Primeiro, a família. A família é
importante, para qualquer artista. Ela ensina-lhe como se comportar, através
dos princípios morais. Depois, os professores, que me foram dando alguns
incentivos, de modo que eu pudesse crescer, quer ao nível geral do
conhecimento, quer ao nível da própria vontade literária, e outros incentivos.
Mas também acabam por existir alguns incentivos críticos, que o próprio leitor
cria, dentro de si, através da leitura.
Uma das
coisas que eu tenho dito, é que a gente tem um grande professor, que é a
leitura. As obras e autores, que a gente vai lendo, são o ponto focal, para que
tenhamos alguma evolução, na escrita. Então, os autores, que me foram
influenciando, têm como consequência aquilo que é a minha escrita. Nisto, também
tive influência dos escritores moçambicanos. Alguns deles me deram um puxão,
para que eu tivesse esse crescimento, que tenho.
Soletras:
O livro “Vontades de Partir & Outros Desejos”, que é que nos sugere? É para
partir, para onde mesmo?
Lino: A sociedade é o ponto focal neste
livro. As temáticas, que ela própria vive, as dinâmicas, que ela própria
sugere, no dia-a-dia. Então, acabou por aparecer algum rabisco do que esta
sociedade escreve, embora sem papel. Escreve de forma falada, de forma memorizada,
etc. E eles dizem “A morte é um destino”. E eu, na tentativa de ir à busca
desse pensamento, que me poderia levar a uma possível resposta. Então, eu tento
responder a isso, sob esta forma: E na tentativa de desenhar uma fórmula, para
responder a esta equação, que me é ofertada
pela sociedade, escrevi o livro “Vontades de Partir & Outros Desejos”.
Soletras:
Então, neste livro, o poeta sugere-nos a morte, como algo de certo modo
“aprazível’? “Vontades de partir & Outros Desejos” é, de facto, uma
convocação para a Morte?
Lino: Não diria uma convocatória para a
morte, porque ela não precisa de convocar [ela leva, quando lhe apetecer]. De
qualquer maneira, são algumas sugestões de como as pessoas acabam por perceber
esta morte, como algo obscuro, de que as pessoas não querem saber de nada. Eu
acho que as pessoas devem dar-lhe o mesmo tratamento que dão à vida. Tento
estabelecer uma fórmula de igualdade [as duas adversárias], entre a morte e a
vida. É essa perspectiva que eu trago no meu livro.
Soletras:
Lino, agora sente-se com vontades ou desejos realizados, depois da escrita
deste livro?
Lino: Não, não, não… realizar desejos é uma
coisa muito difícil. Com um livro, o poeta não se pode sentir realizado, o
escritor não se pode sentir realizado, sobretudo porque mais trabalho vai
continuar a exigir-se-lhe. Para realizar um sonho, a vontade de um poeta, é
preciso muito trabalho, ao nível da própria escrita. O que aconteceu foi apenas
um voo, o primeiro passo, para a sua realização.
Soletras:
O seu livro foi lançado no dia 28 de Fevereiro do corrente ano, no Instituto
Camões, em Maputo. Confesse-nos, a recepção do livro foi das esperadas?
Lino: Foi lançado, no dia 28, esta data não
me vai sair da memória. O lançamento do livro foi co-organizado pelo movimento
literário Kuphaluxa, pela FUNDAC e pelo Instituto Camões.
Em termos
das expectativas, não as conseguimos superar. Esperávamos um pouco mais, desse
lançamento. Mas deu no que deu… o caminho é para a frente.
Soletras: Então, quer-nos dizer que há pouco interesse pela literatura, ou, pelo menos, pelos escritores estreantes?
Lino: Pouco interesse pelos nossos
escritores, eu podia dizer que sim. Porque não faltou a divulgação do próprio
livro. Quase todas as escolas daqui da capital souberam do lançamento, através
de cartazes. Também tivemos um leque de divulgação, através de rádios,
televisões e jornais. Entretanto, eu acho que existe algum receio ou pouco
interesse pela literatura. Devemos trabalhar muito, para criarmos para tal, de
modo a não sermos cruéis para com a literatura. Se continuarmos assim, posso
dizer que ainda somos bárbaros, para o mundo da literatura.
Sou
estreante, mas o facto de sê-lo não podia ser o motivo, para que as pessoas não
viessem ao lançamento. Pelo contrário, eu acho que o facto de ser estreante
poderia galvanizar estes estudantes a irem lá, para ver como um escritor se
comporta ou se expressa. Portanto, era suposto que os estudantes e académicos
pudessem estar lá, para ver essa progressão da literatura.
Mas,
muitas vezes, nós, os da nova vaga literária, somos motivo de muita incerteza
por parte das pessoas… mas a nova literatura está a trazer promessa de grandes
escritores, e isto é bom, para a nossa literatura. E isso deve chamar a atenção
aos críticos literários, para eles não apenas se preocuparem só com os
escritores que já têm alguma tarimba, porque os novos são os que com eles vão
trabalhar, nos próximos anos.
Soletras:
Lino, quer-nos dizer alguma coisa, que não lhe perguntámos?
Lino: Os jovens devem ingressar nos
movimentos literários. Os movimentos literários são uma escola. Aqui, vou citar
alguns movimentos muito expressivos existentes no país. Falo do clube de
escritores e poetas amigos do Niassa. Os seus integrantes, de forma colectiva,
vão crescendo e aprendendo a fazer as coisas. Depois, temos o movimento
Xitende, de Gaza, que também move a literatura. Existe também o movimento
literário Kuphaluxa, da capital do país, cujos trabalhos tive o prazer de
presenciar. Aqui se discutem ideias, a partir das quais as pessoas vão crescendo,
nas formas mental e técnico-literária. E uma coisa, que
me marcou, aqui no Kuphaluxa, é a da existência de uma oficina literária,
coordenada pela professora Fernanda Angius, onde os escritores do movimento
aprendem um pouco mais, sobre a literatura, aumentando-lhe a qualidade.
Depois, outra coisa, as pessoas não podem preocupar-se em
cedo publicarem. Publicar não é sinal de que a pessoa está madura. Quando nós
quisermos publicar, devemos ter muito cuidado, porque nos podemos arrepender,
depois. Devemos esperar, para amadurecermos um pouco, depois de muito trabalhar
o texto. Este é o conselho que eu dou aos que ainda não publicaram.(Redacção).

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