A Literatura é definida, nos padrões
culturais, como sendo um conjunto de produções literárias de uma nação ou época.
Pode ser entendida como uma profissão por certos fazedores da arte. Como
podemos observar, é apenas uma definição; na realidade ela exerce um papel fundamental,
na luta pela afirmação da identidade de um povo. Na sua forma mais simples,
diríamos que é “o diário do povo”, pelo facto de funcionar como um “catalisador vital”, intercambiando valores
culturais, sociais, políticos, etc. Ela comporta-se como as raízes de uma árvore,
que vêm absorvendo as águas subterrâneas, conduzindo-as até às folhas, que
beneficiarão da fotossíntese e das clorofilas, que fazem das plantas o símbolo da vida ecológica africana. Ela
é benéfica e necessária.
É dessa maneira que contemplamos esta
arte legada pelos nossos ancestrais, os quais a praticavam enquanto educadores
e contadores de histórias e estórias. Falar da importância e da necessidade de
uma Literatura de intervenção rápida poderá
parecer uma ideia prematura para algumas pessoas conhecedoras da matéria. Mas
se questionássemos sobre certas realidades quotidianas, tais como “o ciclo de
vida das nossas línguas tradicionais, a perca dos conhecimentos e dos valores para
com a fauna e flora, vítimas do desflorestamento desenfreado, dentre outras, sentiríamos
a importância dessa nova forma de lutar.
Durante quanto tempo as “línguas africanas”poderão resistir
à extrema agressão exponencial das línguas colonizadoras? Como ilustração, tomemos como exemplo
“a geração da década de 90”, de pais
de etnias distintas, que têm o Português, Francês, Inglês, etc., como veículo
fundamental do ensino-aprendizagem, mas também como inibidor nas transferências
de valores tradicionais no seio da família, o que terá efeitos nas gerações
vindouras destas famílias, que serão estrangeiras às suas próprias origens,
depois de perderem a identidade, que, desde muito, foi ensinada, em línguas
tradicionais africanas, oralmente. Daí a necessidade de uma literatura capaz de
interrogar, responder e registar os valores morais e cívicos de extrema importância,
cimentados na oratura. Mas um dilema fica no ar: “como negligenciar a língua do colonizador, escrevendo nesta mesma língua!”.
O objectivo não é suprimi-la, mas sim utilizá-la fielmente, no resguardo
das nossas culturas, uma espécie de “bantu-fonia”.
Nesta nova maneira de poetizar, cronicar,
filosofar, o literato deve apresentar-se preparado para intervir, rapidamente,
nos assuntos, que afectam as sociedades. Ele deve conquistar o epicentro dos media e das camadas de baixa renda.
Outrossim, devemos deixar de promover a
personagem do colonizador branco, que
“invade, domina e humilha a raça negra”, pois isso transmite uma certa imagem
crónica do que foi “a colonização e o
sistema colonial”.
É tudo quinquilharia. Vamos agora,
todos juntos, escrever uma nova página da nossa literatura, vamos dar espaço
aos literatos, para retratarem problemáticas como a massiva “invasão chinesa, o
desflorestamento e desertificação do continente negro-verde, a instalação de
igrejas e mesquitas, que distraem a atenção do povo, deixando-o como “crente fanático”,
o que é um perigo pois “um soldado sem educação é um criminoso”.
A necessidade de se denunciar a corrupção
e outros crimes contra a democracia, o chamado “poder do povo”, é uma
prioridade, nesta literatura. Reafirmamos que é chegada a hora de despromover a
imagem do colonizador, como o carrasco, que dominava sobre nós. E “falemos de Nós como Nós enquanto Nós”, e, para que isto seja alcançado, é
necessário eliminar o desequilíbrio literário,
que vem “favorecendo simplesmente a camada intelectual, deixando à parte a não
intelectual” , que, de vez em quando, é a fonte de inspiração de alguns
textos. Mas nunca lhe é dada a oportunidade de ler o seu dia-a-dia, nos livros,
que falam sobre ela.
Artigo integrado na obra literária
“Chamada de atenção”
Paulo Nguenha
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