terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O lindo e o mais lindo!


Padre Manuel Ferreira

O nosso Dany Wambire tem vindo a insistir comigo para que escreva aqui, a partir da leitura da Soletras: quer que eu a leia, que encontre erros gramaticais e prosódicos, e os corrija. Assim uma espécie de onde se lê aquilo, leia-se isto.

Obedecendo ao tão ilustre Director, eu já tinha preparado o título desta coluna: Onde se lê... leia-se. Mas, à medida que fui lendo o número de Abril, tive de mudar o título, e, em vez do onde se lê, leia-se, tive mesmo de escolher este: o lindo e o mais lindo. E a razão da mudança é importante: em Soletras, não encontro notáveis erros gramaticais, que cheguem para aquela minha programada rubrica! Parabéns, Dany, e compagnia bella, como dizem os italianos! Esta vossa quase perfeita correcção representa um fenómeno cada vez mais raro, senão excepcional, neste nosso belo Moçambique, e não só!

E então, em vez de erros, só consegui encontrar algumas frases, que, embora não estejam erradas, me parece que podem dizer-se de forma literariamente mais linda (digo mais linda e não digo melhor, porque o bom pertence mais à ética e o lindo mais à estética).
Alguns exemplos:

É preciso reduzir-se as diferenças. Não está errado, está bem. Este se é um sujeito colectivo anónimo, é o on francês. E as diferenças é o complemento directo.  Mas ficaria mais lindo assim: é preciso reduzirem-se as diferenças. Aquele se passa para partícula apassivante e as diferenças passa para sujeito.
Está-se a distribuir diplomas para se ganhar salários. E temos nesta frase ainda o mesmo problema. A frase não está mal, mas ficaria mais linda, com esta pequena alteração: Estão a distribuir-se diplomas, para se ganharem salários.

Mesmo assim, para variar, tenho de voltar um pouco àquele projecto inicial: onde se lê as palavras que as considero divinas, leia-se: as palavras que considero divinas. Aquele pronome as está a sobrar, porque o pronome que já é o complemento directo. E o mesmo valerá para esta: visões, que, até hoje, não as sei explicar. Ficamos com um duplo complemento directo. Aquele as sobra. Se escrevermos visões, que, até hoje, não sei explicar, fica tudo mais lindo.

Outro exemplo: onde se lê diferente deste, que agora vos falo, leia-se diferente deste, de que agora vos falo. Quem diz, diz alguma coisa, mas quem fala, fala de alguma coisa!

E, finalmente, onde se lê Todas cobras sabem que não têm veneno. Nós é que a damos, leia-se Todas as cobras sabem que não têm veneno. Nós é que lho damos.

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