Editorial - Maio de 2014
Muito já se debateu, sobre a escassez de leitores, no
país, e sobre o aparente desinteresse, a que a arte literária está sujeita, nesta
pátria amada. Os canos dessas “AKMs” pensantes estão virados, quase sempre,
para os leitores, e para os que pouco fazem, nesta árdua tarefa de edificação
de uma indústria cultural. E para o escritor, a peça chave na construção do
texto, qual questionamento se faz?
Pouco se diz, em relação às qualidades das obras
produzidas sobretudo pelos novos escritores. Pouco se fala da regularidade na
publicação dos que aspiram a ser escritores ― no que concerne à regularidade da
publicação, o assunto é mesmo sério. Há muitos mas muitos nomes, que,
semanalmente, chegam ao campo literário, mas, em fracção de segundos, o
abandonam.
Veja-se a vasta lista dos escritores publicados na
COLECÇÃO INÍCIO, da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), bem como a
dos escritores publicados pelo Fundo de Desenvolvimento Artístico e Cultural
(FUNDAC). Pelas portas destas duas importantes instituições, a maior parte dos
novos escritores entrou, para logo abandonar o recinto de escritor.
O argumento que assassina os outros, na explicação deste
prematuro abandono, é: neste país, não se vive da arte, e, se um ou outro está
a dar-se bem na literatura, é pelo facto de ser “branco” ou de ter nascido com
“dom” ou “sorte”. Nos inúmeros argumentos esgrimidos, não há espaço, para o
poder do trabalho, da perseverança e da esperança, próprio de quem faz algo por
gosto.
Rapidamente, percebe-se que há tantas pessoas, que
mergulham no mundo literário, por outros motivos, distantes dos da arte.
Dinheiro fácil e/ou fama, que não podem ser conseguidos, em curto espaço de
tempo. Aliás, o rapper Duas Caras já tinha isto previsto, numa das músicas, do
último álbum do seu grupo, intitulado Gpro Foreva: que investir na arte, a
curto prazo, não era um bom negócio.
Depois, há que questionar o berço de muitos escribas e
poetas. O ambiente, para o nascimento e crescimento sadio de um escritor , é
escasso. Muitas vezes, quando se está diante de um rebento literário, as
pessoas o incentivam a escrever, apenas porque poderá ganhar muito dinheiro.
Mais, talvez por pouco entenderem desta arte, vão despejando infundados elogios,
sobre este rebento, enchendo-o mais de orgulho do que da arte. E esse orgulho
não o fará procurar pessoas um pouco mais experientes, para lhe limar as
prováveis falhas, próprias de um iniciante.
O único caminho, que muitos jovens escribas conhecem, é o
do patrocínio. O complicado, mas que é logo simplificado, quando são quentes as
costas dos que o percorrem. E isso pode ter consequências graves. O dia da
publicação de um livro, ao invés de ser o início de uma carreira, pode ser o
fim da mesma, por exemplo.
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