Nós, todos os artistas, devemos ficar no Maputo? Foi uma
pergunta que um músico beirense fez, sem a pretensão de obter qualquer
resposta, ao Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, durante uma reunião,
que este teve com os artistas beirenses, na casa Provincial de Cultura de
Sofala, a 13 de Março de 2015.
A alocução do músico, Mano Américo, como é conhecido nos
meandros musicais, foi emocionante e arrancou muitos aplausos aos seus pares.
Diga-se, em abono da verdade, que expressava sentimentos não fabricados na mente, mas sim, no lume do
coração. O artista sentia na pele as dificuldades de estar longe da capital
Maputo, tida como centro das oportunidades.
As capitais das nações, naturalmente, tornam-se
importantes, por hospedarem a máquina central do Estado, e por em torno delas
gravitarem as decisões governamentais. Entretanto, no caso da cultura, elas
acabam por abafar as manifestações
culturais existentes no resto do país, quando os seus dirigentes culturais se distraem. E isto abre espaço para o
êxodo provinciano ― ou seja, a
migração, das províncias para a capital. Cada artista a viver nas províncias
faz o esforço de chegar à capital, para ter oportunidades e ver valorizada a
sua arte.
Os pronunciamentos do Mano Américo terão sido feitos para
contestar essa distracção dos
dirigentes culturais. Que as iniciativas culturais adoptadas pelo governo devem
visar, na prática, todas as províncias do País. O que se vê, na prática, não
pode, grosso modo, contrariar o que está no papel.
Para a solução do problema, a descentralização
adivinha-se como o melhor remédio. Pois, com a descentralização de instituições
como o Fundo para Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC), pode se
assistir à cultura e à arte, numa perspectiva holística. Expressões como “nós
estamos decepcionados com o FUNDAC”, proferida pelo grupo teatral “Só mulheres”,
não deveriam multiplicar-se. O FUNDAC não pode continuar a pôr, na sua lista
dos projectos patrocinados, mais projectos de artistas a viverem na capital. E deve
parar de enfeitar a fotografia dos patrocínios, com apenas dois ou três
artistas de fora da capital.
Entretanto, estamos cientes de que nem todos os problemas
serão resolvidos pelo FUNDAC, ou por outras iniciativas do Ministério da
Cultura e Turismo. Aliás, o timoneiro deste pelouro desaprovou a tendência que
muitos artistas têm, de verem o sector como o pai dos artistas. E nós também desaprovamos, mas não pela mesma
razão. Contestamos, porque se assumirmos o pelouro da Cultura como pai dos artistas, admitimos,
implicitamente, que o mesmo possa ser gerido como uma família, sem transparência
nem prestação de contas. Pois, na família, não haverá filho, que exija a um pai
gestão transparente e prestação de contas.
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