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| Pe. Manuel Ferreira |
Conceito (do latim conceptus)
significa concebido. Todos nós,
portanto, começámos por aí: conceitos. E então, para mim, quem é o mais
importante dos conceitos, senão eu? A minha primeira situação vital foi a situação
maravilhosa de conceito. O grande
milagre! E tanta gente por aí sofregamente à procura deles…
Preconceito é o que vem antes do conceito. E então, qual havia de
ser o preconceito de mim, senão o amor?
Passando do denotativo ao
conotativo, nós, com excelente bom gosto, falamos da nossa mente como de um
maravilhoso útero, que concebe não pessoa mas ideia. E portanto, um conceito
passa a ser uma ideia. E a ideia ou conceito exprime-se numa palavra. Por
exemplo, com a palavra homem exprimo
um conceito, e com a palavra inteligente
exprimo outro conceito.
Se eu agora pegar nesses
dois conceitos homem e inteligente, e os organizar numa espécie
de aliança, numa frase, num período, formulo um juízo, e digo: O homem é inteligente, este homem é inteligente. Passei do exercício
de conceber ao exercício de julgar ou ajuizar. A aliança de três
conceitos deu um juízo.
E então o que é que vem
antes do conceito, para lhe chamarmos preconceito?
Nós, em português, dizemos
preconceito, onde os espanhóis dizem prejudício, e onde os franceses dizem préjudice,
e onde os italianos dizem pregiudizio. Nós,
logicamente devíamos dizer prejuízo. Quem
é que está correcto? Dir-me-eis que estão correctos todos, cada qual a seu
modo, porque as leis da linguagem não se reduzem às gramaticais.
Mas, de facto, se preconceito significa o que vem antes do
conceito, o que é que vem antes do conceito?
O termo prejuízo significa o que vem antes do
juízo. E o que é que vem antes do juízo? Antes do juízo vem o conceito. E então
o prejuízo seria um juízo nascido
antes do tempo, antes de estar suficientemente maduro. Seria um juízo abortado.
Houve ali uma ideia, que se intrometeu, e não deixou o conceito amadurecer, até
ao juízo correcto. E é exactamente isso o que nós queremos dizer, com o termo preconceito. Acho, assim, que as outras
três línguas latinas é que seguem o mais correcto. E não sei exactamente como é
que a portuguesa evoluiu, de modo a dar um significado tão diferente à palavra prejuízo, e a chamar preconceito ao que não vem antes do
conceito, mas antes o pressupõe.

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