quarta-feira, 1 de abril de 2015

“Não se pode oferecer obras de arte a quem as pode comprar” - afirma Ministro Dunduro

Ministro Dunduro recebendo estatueta

Se alguém quiser ouvir problemas, que se reúna com artistas. Provavelmente deve ter sido este o pensamento do Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, quando abriu espaço, para que os artistas da Beira interagissem com ele, numa reunião, na casa Provincial de Cultura de Sofala, no dia 13 de Março de 2015.
Prevista para as 14 horas em ponto ― iniciou cerca 30 de minutos depois ― a reunião ficou marcada pela ânsia de muitos artistas, por quererem dirigir ao menos uma palavra ao seu antigo companheiro de “trincheira”, o artista plástico Silva Dunduro, agora Ministro da Cultura e Turismo.
Ansiedade e mais alguma coisa (emoção, certamente) residiam também do lado do Ministro Dunduro. Aliás ele mesmo o disse: “ estou muito feliz por voltarmos a nos ver, até me faltam palavras”. Entretanto, o governante rapidamente pôs razão na emoção, para alcançar mais um dos objectivos que o levavam a escalar o Chiveve:  auscultar os artistas desta urbe, para melhor trabalhar , em prol do bem-estar deles.
O timoneiro do pelouro da Cultura e Turismo começou por dizer que é dos objectivos da sua governação lutar para que os artistas não fiquem sempre de mão estendida a mendigar. Para tal, Dunduro garantiu-nos que iria desafiar os operadores turísticos, sobretudo as unidades hoteleiras, a criarem espaços, para a exposição de trabalhos artísticos, para variados visitantes. “O artista pode ficar rico, à custa do seu trabalho”, acrescentou o ministro.
Entretanto, para já, Silva Dunduro tem uma grande tarefa, que é a organização ministerial, ao nível da base ou provincial, já que se fundiram dois ministérios do governo passado, nomeadamente, o da cultura e o do turismo. E “está em curso a aprovação de diplomas, que vão sustentar a criação do nosso ministério”, segundo o governante. 
“Não se pode oferecer obras de arte a quem as pode comprar”
Aberto o espaço para os artistas exporem as suas preocupações ao ministro Dunduro, falou o coordenador de uma associação de escultura, a funcionar nas instalações da Casa Provincial de Cultura de Sofala. Segundo este coordenador, a associação recebeu apoios do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC), para formar mais escultores. Com efeito, já surgiu pelo menos um jovem, de quem o ministro Dunduro recebeu de “presente” uma estatueta, com um camponês de enxada ao ombro.
Depois de o jovem revelar ao ministro o significado e o valor monetário da obra, eis que o governante decide pagar o “presente”, antes advertindo o presenteador: “não se pode oferecer obras de arte a quem as pode comprar”. A sala gelou, mas eu, o repórter escalado para cobrir o evento, nem pouco, pois já conhecia a alma artística, que reside naquele senhor, que sempre soube valorizar a arte.
Os artistas estão a abandonar a arte, para serem sapateiros ou pedreiros
Certamente, não foi aos sapateiros profissionais que o actor Apingar, o doutor, quis referir-se, quando chegou a sua vez de falar ao ministro. É que o Doutor Apingar enfurecido desabafou que há falta de apoio financeiro para as iniciativas culturais, e que há muita demora, na tramitação de documentos, para a criação de associações: “para criar-se uma associação cultural, leva-se muito tempo. Nós, para criar a nossa associação, tivemos que gastar muito dinheiro, para ir a Maputo, mas agora, que temos a associação, não conseguimos fazer o uso da mesma.” - disse o Doutor Apingar, para depois perguntar : “como posso eu ter dinheiro, para sustentar essa associação?”
Este encenador e actor de teatro foi mais longe, ao asseverar que, na Beira, está difícil viver da arte. Segundo Apingar, existem muitos artistas que estão a abandonar a arte, porque se chega a uma fase, em que esta nos engasga (…). “Há artistas que se estão a tornar sapateiros ou pedreiros, pois não dá viver da arte.”     
As editoras devem voltar a receber músicas
Pirataria, se preferirem contrafacção, é um assunto quase sempre presente em uma reunião, em que estejam músicos. Esta reunião não fugiu à regra. Jorge Mamade, um conceituado músico, foi quem fez vir à baila o assunto. Mas, por incrível que pareça, o músico não atribui culpas aos “piratas”, ou “revendedores”, como ele prefere chamá-los. Segundo ele, há pessoas que querem comprar o disco original de um músico, mas não encontram locais para tal, pois já não existem editoras musicais, bem como as suas sucursais pelas províncias.
Portanto, para se reverter o cenário, o músico apela às editoras, para que “voltem a receber músicas e a distribuí-las pelas suas sucursais, que devem também voltar a funcionar, em todas as províncias”.   
Criação de Banco da Cultura
Como as inúmeras perguntas e comentários apresentados pelos artistas precisavam de resposta ou de comentário do ministro Dunduro, o mesmo cumpriu o seu dever. E começou por desaprovar a tendência, que muitos artistas têm, de ver o ministério da cultura como pai dos artistas: “ é preciso que não vejamos o governo na perspectiva paternalista. Ou seja, o Ministério da Cultura e Turismo como pai dos artistas ou promotores turísticos”
Mais adiante, o ministro disse que é preciso ver que a maior parte dos problemas apresentados pelos artistas podem ser resolvidos por eles mesmos, de forma individual ou colectiva. “É preciso que nós tenhamos um sentido muito grande de responsabilidade individual e colectiva, e pensar que a única forma de ultrapassar desafios, parte de nós próprios”, disse o governante, para, de seguida, apelar: “temos que nos esforçar em deixar a imagem de mendicidade, para uma acção proactiva ao desenvolvimento”.    

 Por fim, sobre iniciativas em curso, para além da abertura a projectos culturais, através das casas provinciais de cultura e do FUNDAC, o ministro garantiu que, dentro deste quinquénio, vai ser criado o banco da cultura, para financiar projectos culturais rentáveis, que permitam o reembolso do dinheiro emprestado. (Dany Wambire)

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