sábado, 10 de outubro de 2015

Evangelho “literário” segundo Kuphaluxa




Com o objectivo de celebrar a universalidade da literatura, tem lugar, entre os dias 23 e 25 de Outubro, na cidade da Matola, província de Maputo, o Festival Literatas, promovido pelo Movimento Literário Kuphaluxa, uma agremiação de jovens escritores fundadores da revista literária electrónica denominada Literatas.
O evento, a decorrer sob o lema “Memória: um museu contemporâneo”, colocará, no mesmo palco, diversas entidades, entre escritores, músicos, leitores e admiradores de todo o tipo de arte. Trata-se, no concreto, de um conjunto de actividades, com destaque para debates com escritores, música ao vivo, gastronomia e feira de livros.
Em entrevista exclusiva à Soletras, o secretário-geral do Kuphaluxa, Eduardo Quive, deu a conhecer que o seu movimento pretende, na verdade, mudar os paradigmas de contacto entre o leitor e o livro e conquistar novos e diferentes públicos, através de uma série de actividades lúdicas, tendo a literatura como o centro de tudo.
Mais adiante, Quive explicou que o festival enquadra-se num dos principais pilares do movimento, que é o “apoio, promoção e incentivo à leitura”, daí a promoção do evento que visa levar as pessoas a gostarem da leitura. “O que é um livro, quem está por detrás dele e o que faz o livro é a primeira coisa que as pessoas devem saber. Antes, é preciso explicar às pessoas o que é livro; e a literatura não se faz apenas pelo livro, pode ser por meio de dança, gastronomia ou música” – enfatizou a nossa fonte, para quem uma sociedade inteira é literatura e pode ser lida.
Notadamente convencido com a ideia, o activista literário acredita que a massificação da literatura é possível se as pessoas forem encorajadas e estiverem envolvidas em qualquer tipo de arte que pratiquem e apreciem, mesmo as que acham que o livro é para os outros, desde que se promovam eventos do género dentro e fora das zonas urbanas, procurando atingir um público cada vez maior e que normalmente não tem acesso a uma feira de livro ou livraria.
Respondendo a uma pergunta da Soletras sobre como as actividade programadas se relacionam com a literatura, podendo, de alguma forma, influenciar os participantes a gostarem desta arte, Quive esclareceu que todas as actividades ligadas à encenação, ao canto e à dança são primariamente escritas e só depois representadas, cantadas e coreografadas, respectivamente, pelo que entende haver toda a possibilidade de o festival ser de grande impacto para o público não leitor, tornando-o, assim, no amante da literatura.

No evento de três dias, o Movimento Literário Kuphaluxa conta com a participação do Conselho Municipal da Matola e da Associação Cultural Kutlanga – seus principais parceiros. (Cremildo da Cruz)

“Muito do versilibrismo, que anda por aí, não vale nada”

É um homem humilde, mas também verdadeiro. Aliás, a veracidade é um dos requintes da humildade. E este princípio é observado à risca pelo nosso entrevistado, desta edição, sempre que lê um livro de literatura. O seu nome é Manuel Serra Ferreira. E é padre. Então que o chamemos apenas: Padre Ferreira.

É padre jesuíta português, mas foi na Itália onde a sua alma se aproximou, cada vez mais, às artes. Por interesse próprio, estudou quase tudo quanto fosse obra artística. Mas é a literatura que ocupou a maior parte do seu tempo. Prova disso, é que chegado a Moçambique decidiu logo seguir várias gerações de escritores. E sobre a mais recente vaga de escritores moçambicanos, ele escreveu um livro, intitulado “Um presente do futuro: os jovens da literatura moçambicana por volta de 2015”. E usamos este livro, a ser lançado em Outubro do corrente ano, como pretexto para entrevistar o Padre. Leia a entrevista nas páginas que se seguem! 



Soletras: O senhor vai lançar um livro sobre os jovens escritores moçambicanos. É português, e interessa-se pela literatura moçambicana. Quer explicar…
Padre Ferreira: Interesso-me pela literatura, desde jovem, já lá vão muitos anos. Sempre gostei de ler livros literários e sobre literatura. Li sobretudo as literaturas grega, latina, francesa, russa, e outras. Antes de vir para Moçambique, li muita poesia. Tinha uma alma de artista, e interessava-me por tudo o que fosse arte. Aliás, formei-me na Itália, terra de artes e artistas.
Ao chegar a Moçambique (1964), interessei-me logo pela literatura moçambicana. E li Rui Knopfli, José Craveirinha, Noémia de Sousa. Numa segunda fase, li Mia Couto e outros autores da mesma geração, como Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa, Eduardo White, que era muito meu amigo. Já na Beira (onde resido), lia Heliodoro Baptista, meu grande amigo, e colaborei com Bahassane Adamdgy, que tinha começado uma carreira muito boa, mas, infelizmente, cedo faleceu. Depois, comecei a interessar-me pelos escritores mais novos, de quem se trata neste livro (Um presente do futuro). Justamente quando conheci o Dany Wambire, que está nas origens de todo este livro. Confesso que, se o não tivesse conhecido a ele e à revista Soletras, nada disto seria materializado.
Soletras: Está em Moçambique, desde 1964. Como caracteriza a nossa literatura, nos seus diferentes períodos?
P. Ferreira: Quem responderia muito bem a essa pergunta seria o Professor Dr. Francisco Noa, outro que me honra com a sua amizade!                                                                                    
Quanto aos mais antigos, acho que um dos melhores poetas moçambicanos foi Rui de Noronha. Foi talvez o único a conseguir compor sonetos bem-feitos. Inspirou-se no grande poeta português Antero de Quental. Terá sido um dos escritores moçambicanos a ter influência da literatura de Portugal. Depois, vieram outros, que também receberam influência da mesma literatura. Mas deve-se reconhecer que, à medida que nos afastamos da época colonial, os escritores moçambicanos vão-se libertando da influência da literatura portuguesa. E acredito que, nos próximos tempos, a literatura moçambicana vai dever menos à portuguesa do que à brasileira. Aliás, como observou o angolano Agualusa, um dos maiores escritores moçambicanos, Mia Couto, bebeu do escritor brasileiro Guimarães Rosa. Mas noto nos escritores moçambicanos um progressivo afastamento, próprio de quem procura afirmar-se e ter sua originalidade e autonomia.
Soletras: No seu livro, ocupou-se com obras de 19 jovens escritores moçambicanos pouco conhecidos, contrariando a tendência de alguns críticos nossos, que se têm apegado aos consagrados. Quais são os seus objectivos?
P. Ferreira: Ao escrever este livro, o meu primeiro objectivo era este: escrever um livro, que não fosse meu! Acho que consegui! Note que, na capa do livro, o meu nome está tão ofuscado, e é pelo fulgor dos jovens escritores, que estão aqui dentro! Depois, consegui aliar os meus comentários às entrevistas que eles mesmos cederam à revista Soletras. Deste modo, não fui tanto eu a falar deles, mas foram sobretudo eles a apresentar-se a si mesmos, de forma muito rica. Aqui, estes escritores têm a oportunidade de se lerem um ao outro, numa espécie de partilha de dificuldades.
Soletras: Falou de partilha de dificuldades? Que dificuldades são essas?
P. Ferreira: São, no geral, dificuldades de meios. Uns, por falta de meios financeiros, tiveram dificuldades para publicar os seus livros, mas, com muito sacrifício, acabaram conseguindo. Outros, carecem ainda de algumas ferramentas linguísticas e gramaticais, para melhor escreverem. Mas os problemas de gramática, com que deparei, desde os primeiros que li, não me fizeram desistir do projecto de fazer conhecer estes jovens escritores, e fazer ver claramente que a literatura moçambicana não se encerrou, e tem um futuro garantido. Estes escritores novos, mesmo que algum não esteja ainda bem preparado, para publicar livros, o facto é que já os publica. E é bom que o façam, mesmo com lacunas. Estou convencido de que vale a pena investir nestes novos, porque estão cheios de boa vontade, e com muito a revelar. O talento, que realmente têm, não pode ser ocultado pela eventual pobreza de expressão. Que não depende deles, mas sim das escolas, em que foram formados, que, já não são as mesmas, em que se formaram os escritores do período anterior.
Soletras: A propósito das dificuldades de língua, diz, num dos parágrafos do livro, que Luís Bernardo Honwana, quando publicou “Nós matámos o Cão-Tinhoso”, sabia o português melhor do que alguns escritores de hoje. Regredimos tanto assim? A que se deve isso?          
P. Ferreira: Penso que o texto de Luís Bernardo terá passado por um bom revisor. Não creio que aquela perfeição literária seja trabalho exclusivo dele. De resto, comparo o português falado então com o falado agora. Naquela época, eram menos os que falavam português mas dominavam-no melhor. Hoje, são mais a falá-lo, mas com menos domínio. Aumentou a quantidade, baixou a qualidade. É uma espécie de lei.
Soletras: O senhor parece ter aversão ao versilibrismo. Ou seja, acha que os poetas devem estagiar no verso medido, antes de chegarem ao versilibrismo. Explique-nos um pouco…
P. Ferreira: Mia Couto é o mestre em neologismos; e alguns destes escritores, como o Dany Wambire, seguem esta linha. Quando encontro, nalgum texto, um destes neologismos, bem pensado e criado, não me preocupo em ir ver se a palavra vem ou não no dicionário. Mas segundo as regras, só o escritor de créditos firmados tinha autorização para criar neologismos. Vindo à poesia, penso que o versilibrismo é bom, contanto que seja fruto do trabalho aturado de quem passou pela disciplina do verso medido. Porque senão o poeta põe-se a escrever, como se fosse inspirado por uma musa, e não há musa nenhuma a inspirá-lo. É preciso que ele escreva, como deve ser, segundo as leis, que tem toda a arte. Muito do versilibrismo, que anda por aí, não vale nada. Assim como também há poemas com versos bem medidos, mas que, logo à partida, vê-se que não há ali poesia nenhuma.
Em resumo: para escrever um romance, o escritor deve estagiar no conto, como estão a fazer alguns dos escritores apresentados no livro. Escrever um romance exige um grande esforço, e acho que se não devem queimar etapas. Quem se atreve logo a escrever um romance, geralmente não faz grande coisa. E na poesia, o poeta, antes de avançar para o versilibrismo, deveria estagiar na poesia de verso medido.
Soletras: Mais algum problema que constata nestes jovens?
P. Ferreira: Parece-me tentador e negativo o recurso à temática sexo. Facilmente se é vítima da banalidade. Entretanto, há, neste grupo, algum escritor, que constrói as suas crónicas, do princípio até ao fim, sem meter sexo. E fica tudo muito bem, sem ele. Enquanto, em outros, chega-se perto da pornografia. Eu penso que o poeta é educado e delicado, como a mulher: não lhe fica bem dizer um palavrão. A poesia é mais delicada do que a prosa. Na prosa, eu até admitiria calão, mas na poesia não. A poesia é discreta e delicada, resiste à linguagem denotativa, insiste na conotativa. O poeta não chama todas as coisas pelo seu nome. Transfigura, como faz o Hélder Faife. Consegue meter nos seus textos cenas de sexo, mas de forma limpinha, e por isso eu não lhe faço a menor observação. Depois, acho que todos estes escritores precisam de recordar-se dos níveis da língua, e saber que a literatura não está num nível qualquer, da gíria, do calão, do informativo nem do referencial. É linguagem cuidada.
Soletras: Em relação à reescrita. Acha que estes jovens escritores a praticam?
P. Ferreira: Alguns destes jovens deveriam adquirir o hábito de reescrever os textos, para lhes melhorarem a qualidade. Não se pode pensar logo que tudo está bem, pois há sempre um caminho a percorrer.
Soletras: Os bons críticos literários chegam a não ganhar a simpatia dos escritores. Com este livro, o senhor pode seguir o mesmo caminho…
P. Ferreira: Posso, sim! Primeiro, eu não garanto que o livro esteja isento de todos os traços da leviandade. É tão difícil atingir, sempre e em tudo, a profundidade. Também não estranharia se alguém lesse superficialmente, e ficasse zangado. Mas eu não temo reacções negativas. Se elas vierem, não me perturbam. Não escrevi o livro para receber louvores, escrevi-o por amor a jovens escritores, que nem conheço, e por amor à literatura moçambicana. Estou certo de que estes escritores aqui são adultos, responsáveis, capazes de discernir. E todos eles têm, agora, a certeza de que o seu livro foi lido, por alguém que tem algum conhecimento disto e daquilo, e que dedicou grande parte do seu tempo a fazê-los conhecer e estimar a um público cada vez maior. Se algum deles se voltasse contra mim, o problema seria dele e não meu! Eu aconselhá-lo-ia a gritar baixinho, para não se fazer ouvir por algum dos que falam de mediocridade!
Soletras: Parece que há uma pequena confusão entre os escritores mais velhos e os mais novos. Há quem chegue a dizer que a literatura produzida pelos jovens é medíocre. Em que lado da querela o senhor está?
P. Ferreira: No prefácio do livro, digo que não tenho autoridade para estabelecer a fronteira entre os escritores mais velhos e os mais novos. Mas aos que se consideram mais velhos, eu leio-os, aprecio-os e já publiquei recensões sobre eles. E agora virei-me também para os mais novos. A palavra medíocre não aparece nem podia aparecer no livro, porque se eu achasse medíocres estes escritores, nem me dava ao trabalho de os ler. O termo, para a minha sensibilidade, é pesado. Quando chego a usá-lo, quero dizer que a coisa já está mesmo feia. Mas eu imagino que os mais velhos, quando dizem isso da literatura jovem, só querem dizer que ela não tem a qualidade da deles. Mas eles também já passaram por esta fase, só que não publicaram tão depressa. Quem publica depressa, arrisca-se a ser considerado medíocre. Entretanto, como sói dizer-se, nesta jovem literatura, há madeira para santo ou pano para mangas. No fundo, o que eu procuro «pregar» é que estão aqui uns jovens escritores, que precisam de carinho e incentivo. Eu, um padre de 76 anos, bem mais velho do que alguns dos escritores “consagrados”, dediquei grande parte do pouco tempo que tenho, para os ler, com o cuidado, que este livro manifesta. E valeu a pena.
Soletras: Estando os escritores mais velhos a controlar os grandes prémios literários, há possibilidade de algum deles ser atribuído a um jovem?
P. Ferreira: Acho que, em todo o mundo, os prémios literários não são completamente isentos, têm sempre interesses escondidos. Até o próprio Prémio Nobel é atribuído à mistura com certos interesses, com muitas políticas metidas aí dentro. Esses prémios passam por um crivo, em que há sempre furos. Portanto, não me admira que haja aspectos menos recomendáveis, nos nossos concursos literários. Do grupo destes escritores, que estão no livro, algum poderia ser distinguido em grandes prémios nacionais. E, afinal, até foi! Haja pessoas que os leiam! Pode acontecer que, por vezes, os júris cheguem a atribuir prémios, sem terem lido todos os livros concorrentes, ou os terem lido sem a devida profundidade. Os prémios estão condicionados pelos que os patrocinam, e pelos que julgam os livros. E há sempre interesses metidos, ocultos muitas vezes. Mas também não me admira que alguns concursos terminem sem vencedores, como o que foi noticiado, na edição passada da revista Soletras. Não acho bem que se faça alarido, quando um concurso termina sem vencedores.
Soletras: Dito isto, acha que a objectividade e transparência são aspectos de difícil alcance, em prémios literários?
P. Ferreira: A objectividade é sempre difícil. É mesmo difícil o júri acertar completamente num livro. Pode não acertar, por defeito seu. E, mesmo acertando, nem todos os concorrentes concordarão, pois qualquer um, que escreva um livro, tende a pensar que o seu será o melhor. De qualquer forma, concordo com o escritor Alex Dau, que disse [em entrevista à Soletras]: em Moçambique devíamos ter uma academia de artes e letras, que deveria ser responsável pela organização de prémios literários, a bem da transparência. E deveria diversificar-se ou alargar-se o corpo de jurados, passando a incluir jornalistas culturais, académicos, docentes universitários, etc,. Pessoas que conheçam verdadeiramente a literatura moçambicana.
Soletras: Mudando de assunto: na sua opinião, qual é o papel que os nossos escritores devem ter para com a sociedade? Devem ter um comprometimento com ela?
P. Ferreira: A melhor resposta deu-a Mia Couto, há pouco, aquando do seu doutoramento honoris causa. Ele disse que os escritores podem ter uma influência, na construção dos valores éticos. Eu confesso a minha admiração e estima por alguns jovens apresentados neste livro. Pois apresentam grande preocupação com os problemas sociais e éticos. As entrevistas deles publicadas neste livro, dão disso um animador testemunho. Eles querem contribuir para uma sociedade melhor. Por isso, alegro-me com o que disse Mia Couto. E eu, como padre, sinto que faz parte da minha missão acompanhar estes jovens escritores. Alguns deles até parecem tão moralistas como literatos.
Soletras: Alguma coisa, que não lhe perguntamos?
P. Ferreira: Gostaria que outros se dessem ao trabalho, a que me dei eu: ler, com toda a atenção, e, de caneta e papel, ir anotando tudo. Não leiam assim por cima das brasas, para não darem depois opiniões superficiais. A minha opinião pode ser até má, mas superficial ela não é, porque me esforcei por entrar em cheio nos livros. Era bom que houvesse mais críticos, e é isso que estes escritores pedem e merecem. Eu gostaria que o livro se vendesse, não para eu arranjar dinheiro, mas por amor desses escritores que estão aí dentro. Quanto mais gente os conhecer e animar, mais possibilidades há de o nome de Moçambique ir para a frente. Mais jovens escritores moçambicanos serão conhecidos e terão voz, dentro da literatura ou da cultura moçambicana.


quarta-feira, 1 de abril de 2015

Editorial de Março de 2015: Urge a descentralização cultural


Nós, todos os artistas, devemos ficar no Maputo? Foi uma pergunta que um músico beirense fez, sem a pretensão de obter qualquer resposta, ao Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, durante uma reunião, que este teve com os artistas beirenses, na casa Provincial de Cultura de Sofala, a 13 de Março de 2015. 
A alocução do músico, Mano Américo, como é conhecido nos meandros musicais, foi emocionante e arrancou muitos aplausos aos seus pares. Diga-se, em abono da verdade, que expressava sentimentos não fabricados na mente, mas sim, no lume do coração. O artista sentia na pele as dificuldades de estar longe da capital Maputo, tida como centro das oportunidades.
As capitais das nações, naturalmente, tornam-se importantes, por hospedarem a máquina central do Estado, e por em torno delas gravitarem as decisões governamentais. Entretanto, no caso da cultura, elas acabam por abafar as manifestações culturais existentes no resto do país, quando os seus dirigentes culturais se distraem. E isto abre espaço para o êxodo provinciano ― ou seja, a migração, das províncias para a capital. Cada artista a viver nas províncias faz o esforço de chegar à capital, para ter oportunidades e ver valorizada a sua arte.
Os pronunciamentos do Mano Américo terão sido feitos para contestar essa distracção dos dirigentes culturais. Que as iniciativas culturais adoptadas pelo governo devem visar, na prática, todas as províncias do País. O que se vê, na prática, não pode, grosso modo, contrariar o que está no papel.
Para a solução do problema, a descentralização adivinha-se como o melhor remédio. Pois, com a descentralização de instituições como o Fundo para Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC), pode se assistir à cultura e à arte, numa perspectiva holística. Expressões como “nós estamos decepcionados com o FUNDAC”, proferida pelo grupo teatral “Só mulheres”, não deveriam multiplicar-se. O FUNDAC não pode continuar a pôr, na sua lista dos projectos patrocinados, mais projectos de artistas a viverem na capital. E deve parar de enfeitar a fotografia dos patrocínios, com apenas dois ou três artistas de fora da capital. 

Entretanto, estamos cientes de que nem todos os problemas serão resolvidos pelo FUNDAC, ou por outras iniciativas do Ministério da Cultura e Turismo. Aliás, o timoneiro deste pelouro desaprovou a tendência que muitos artistas têm, de verem o sector como o pai dos artistas. E nós também desaprovamos, mas não pela mesma razão. Contestamos, porque se assumirmos o pelouro da Cultura como pai dos artistas, admitimos, implicitamente, que o mesmo possa ser gerido como uma família, sem transparência nem prestação de contas. Pois, na família, não haverá filho, que exija a um pai gestão transparente e prestação de contas.      

PRECONCEITO OU PREJUIZO?

Pe. Manuel Ferreira


Conceito (do latim conceptus) significa concebido. Todos nós, portanto, começámos por aí: conceitos. E então, para mim, quem é o mais importante dos conceitos, senão eu? A minha primeira situação vital foi a situação maravilhosa de conceito. O grande milagre! E tanta gente por aí sofregamente à procura deles…
Preconceito é o que vem antes do conceito. E então, qual havia de ser o preconceito de mim, senão o amor?
Passando do denotativo ao conotativo, nós, com excelente bom gosto, falamos da nossa mente como de um maravilhoso útero, que concebe não pessoa mas ideia. E portanto, um conceito passa a ser uma ideia. E a ideia ou conceito exprime-se numa palavra. Por exemplo, com a palavra homem exprimo um conceito, e com a palavra inteligente exprimo outro conceito.
Se eu agora pegar nesses dois conceitos homem e inteligente, e os organizar numa espécie de aliança, numa frase, num período, formulo um juízo, e digo: O homem é inteligente, este homem é inteligente. Passei do exercício de conceber ao exercício de julgar ou ajuizar. A aliança de três conceitos deu um juízo.
E então o que é que vem antes do conceito, para lhe chamarmos preconceito?
Nós, em português, dizemos preconceito, onde os espanhóis dizem prejudício, e onde os franceses dizem préjudice, e onde os italianos dizem pregiudizio. Nós, logicamente devíamos dizer prejuízo. Quem é que está correcto? Dir-me-eis que estão correctos todos, cada qual a seu modo, porque as leis da linguagem não se reduzem às gramaticais.
Mas, de facto, se preconceito significa o que vem antes do conceito, o que é que vem antes do conceito?

O termo prejuízo significa o que vem antes do juízo. E o que é que vem antes do juízo? Antes do juízo vem o conceito. E então o prejuízo seria um juízo nascido antes do tempo, antes de estar suficientemente maduro. Seria um juízo abortado. Houve ali uma ideia, que se intrometeu, e não deixou o conceito amadurecer, até ao juízo correcto. E é exactamente isso o que nós queremos dizer, com o termo preconceito. Acho, assim, que as outras três línguas latinas é que seguem o mais correcto. E não sei exactamente como é que a portuguesa evoluiu, de modo a dar um significado tão diferente à palavra prejuízo, e a chamar preconceito ao que não vem antes do conceito, mas antes o pressupõe. 

FILÓSOFOS E PEDÓFILOS

Pe. Manuel Ferreira


Com um esquema antropológico ternário, ensinaram-me os gregos que eu tenho corpo, alma e espírito. Os animais só têm corpo e alma. O que faz de mim uma pessoa é, exactamente, o meu espírito. E um cristão dirá que é graças ao meu espírito que eu sou à imagem e semelhança de Deus.
O meu corpo cuidam-me dele os médicos. O corpo sente, e aquilo ali é uma sensação. Sentir calor, frio, fome, saciedade. As sensações agradáveis chamam-se prazeres e as desagradáveis, dores.
A minha alma cuidam-me dela os psicólogos e psiquiatras. A alma sente e aquilo ali chama-se sentimento. Sentir pena, dó, medo, apreensão, entusiasmo.
O meu espírito é a fonte das minhas opções, ou decisões, que dão orientação e sentido a toda a minha vida. Os animais são regulados pelos instintos. Eu também tenho instintos, mas sou livre e não ando ao sabor dos instintos, mas oriento a vida, segundo uma opção, uma decisão, uma escolha do meu espírito.
Então, daí, que haja três espécies ou níveis de amor: amor carnal ou eros, amor psíquico ou filia, amor espiritual ou ágape.
Quem amar uma criança, com amor carnal ou erótico e abusar dela, sexualmente,  chama-se pederasta, e pratica a pederastia.
Quem amar uma criança com amor psicológico ou psíquico, tem por ela grande simpatia, dedica-se a ela, e chama-se pedófilo, e pratica a pedofilia. Tal como o amigo da sabedoria se chama filósofo e pratica a filosofia, tal como o amigo da humanidade se chama filantropo e pratica a filantropia.
Ora, então, se a filosofia não é repreensível mas louvável, se a filantropia não é repreensível mas louvável, porque é que a pedofilia tem de andar para aí aos pontapés, tão mal tratada pelos média? Muito simples: estamos no reino da ignorância. É, realmente, por ignorância, que dizem pedofilia em vez de pederastia, e pedófilo em vez pederasta. Seria caso para dizermos aqui: onde se lê e se escuta pedófilo leia-se e escute-se pederasta. E onde se lê e se escuta pedofilia leia-se e escute-se pederastia. Mas a maioria não sabe que isso está linguisticamente errado, e forma-se a procissão. E a minoria, que sabe que está errado, cala-se, e até se adapta, e acaba por entrar no coro da maioria desafinada. E, se houver alguém que se atreva a enfrentar essa enxurrada, mete-se em maus lençóis, porque se mete nestas chatas manias linguísticas! Claro que eu não nutro nenhuma esperança de mudar essa linguagem globalizada. O meu objectivo, aqui, é só informar e entreter!


Beira acolheu o Primeiro Festival de Poesia

Da esquerda para a direita, premiados em primeiro, segundo e terceiro lugar

Nunca antes tinha acontecido algo igual. Os poetas e/ou amantes de poesia beirenses testemunharam o primeiro festival de poesia, organizado pelo Conselho Municipal da Beira, na esteira da celebração do Dia Mundial da Poesia, 21 de Março.
Envolto numa tímida tarde de sábado, o Auditório Municipal da Beira, foi registando, a conta-gotas, a chegada de gente, sobretudo jovens, que vinham assistir ao Primeiro Festival de Poesia. Este facto talvez tenha concorrido para o início do programa, inicialmente marcado para as 16 horas, ter  acabado por dar-se só cerca de duas horas depois.
Após uma belíssima actuação da “Companhia Municipal de Dança”, começaram os sumários discursos dos organizadores, todos a louvarem e a justificarem a necessidade da realização de um festival de poesia na Beira. Lídia Simango, em representação dos poetas, chegou a dizer: “estamos felizes, por se terem [Conselho Municipal] lembrado de nós, nesta importante data, que é o Dia Mundial da Poesia”.
A actividade que dominou o festival foi o concurso de declamação de poesia, do qual participaram cerca de vinte e dois declamadores, todos eles ávidos de ocuparem as posições cimeiras, que dariam prémios de sete mil, cinco mil e três mil meticais, para o primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente.
Nessas três posições, ao fim de três rondas, sob avaliação do corpo de jurados, ficaram os declamadores Domingos Penga, Tomás Maurício e Fernando Modesto, na forma decrescente dos vencedores. 
No final, os principais intervenientes, nomeadamente a organização, o júri e os participantes, atribuíram nota positiva ao evento.
Luís Chimbia, Vereador de Educação e Cultura no Conselho Municipal da Beira, acredita que foram alcançados os objectivos, que se pretendiam com o evento, e garantiu à Soletras que eventos como este vão acontecer sempre.
“Acho que foi cumprido o objectivo, visto que nunca houve um evento como este, a data passava em branco. Agora começamos, e daqui em diante isso será constante. Portanto, foi uma mais-valia e estimulamos os nossos poetas e a todos os amantes da poesia que aqui estiveram presentes”     , disse Chimbia
Por seu turno, Swith Chissada, jornalista e um dos membros de júri, instado a tecer comentários sobre a qualidade dos declamadores que participaram do concurso, disse que houve dificuldade para encontrar os vencedores, porque, ao longo das rondas, as notas atribuídas pelos membros do júri aos concorrentes eram díspares.
“Havia opiniões completamente diferentes, em relação à prestação de cada candidato, e nalgumas vezes, essa diferença de apreciação tornava as contas finais extremamente difíceis”, disse Swith, para depois concluir “notei que aqui há muito produto bonito, mas também houve muita declamação humorística. Era bom que, das próximas vezes, especificássemos o tipo de poesia a declamar-se”.
Fernando Modesto, um dos participantes e terceiro classificado do concurso, diz que se sentiu bem ao participar, e melhor ao ter sido distinguido com o terceiro lugar. Entretanto, lamenta a fraca afluência do público para assistir ao festival, e também contesta algumas decisões do júri: “ primeiro, não havia pessoas para assistir, senão os próprios participantes e a produção do programa; depois, a tal classificação, os critérios que usaram não foram justos, há pessoas que caíram, na primeira ronda, enquanto eram bons.”

Refira-se que o Dia Mundial da Poesia se celebra a 21 de Março, desde que foi instituída a data, na 30.ª Conferência Geral da UNESCO, a 16 de Novembro de 1999. Nesta data celebra-se a diversidade do diálogo, a livre criação de ideias através das palavras, da criatividade e da inovação. A data visa fazer uma reflexão sobre o poder da linguagem e do desenvolvimento das habilidades criativas de cada pessoa. 

Celebrado “O casamento misterioso de Mwidja”.



Se misterioso é o casamento de Mwidja, o mesmo não se pode dizer do casamento de Alexandre Dunduro com as artes, particularmente com a literatura. Aliás certo é o adágio que diz que quem sai aos seus não degenera.
O jovem escritor Alexandre Dunduro acaba de apresentar o seu primeiro livro, intitulado “O casamento misterioso de Mwidja”. O acto de lançamento decorreu no átrio da Escola Portuguesa de Moçambique, no dia 19 de Março de 2015.
Filho de um consagrado artista plástico (Silva Dunduro), Alexandre decidiu usar palavras para “pintar” algumas histórias, que foi escutando, desde que os seus ouvidos se tornaram sensíveis a pequenas estórias, contadas sobretudo à volta da fogueira.
Ilustrado por Orlando Mondlane, “O casamento misterioso de Mwidja”, segundo a ensaísta Sara Laisse, a apresentadora da obra, deixa-nos com algum aprendizado através das personagens Ntsay e Mwidja
“Ntsay e Mwidja são protagonistas de acções que permitem voltar a velha e útil questão de que os contos tradicionais são portadores: o ensinamento valores e de costumes, no caso, a importância de se escutar os conselhos dos mais velhos.” – Lê-se no texto da apresentadora.
Esta obra é que fecha a colecção dos livros para crianças editados pela “Fundação Conto para o Mundo”, em parceria com a Escola Portuguesa de Moçambique, com o objectivo de recolher os contos tradicionais provenientes das culturas moçambicanas e publicá-los na língua oficial portuguesa e nas línguas moçambicanas.

Refira-se que, para além de Alexandre Dunduro, A Fundação conto para o Mundo, em parceria com a Escola Portuguesa de Moçambique, já publicou Wazi de Rogério Manjate, com ilustrações de Celestino Mudaulane; A Viagem de Tatiana Pinto, com ilustrações de Tomás Muchanga e Luís Cardoso, dentre outros.

Soletras é impressa na Beira


Esta é, certamente, uma boa nova para os leitores. A revista Soletras também já pode ser lida em edição impressa, ao nível da cidade da Beira, onde está sedeado este órgão de informação, coordenado e editado por inúmeros activistas literários.
A impressão, de pequena tiragem, é resultado de uma parceria entre este órgão e o Centro Cultural Português- pólo da Beira, com vista a levar a revista para mais leitores beirenses, que não tenham acesso à internet. Aliás, o director deste órgão, aquando da celebração do primeiro aniversário, tinha se queixado do facto de a sua revista ser pouco conhecida e divulgada, na cidade da Beira.
 “Há pouca participação dos escritores beirenses ainda em anonimato. Há, porém, muito envolvimento dos escritores de fora da Beira. Isso contraria o pilar visionista da sua criação, que é o de catapultar a literatura beirense, que se encontra nas gavetas e empoeirada” ― disse, na ocasião, Dany Wambire.
Agora Dany respira um ar de alívio e espera, com a impressão da revista, encontrar mais leitores e/ou colaboradores, para a prossecução dos trabalhos. “Assim, a revista será lida por mais pessoas e, a breve trecho, poderá publicar mais trabalhos de pessoas, que efectivamente precisam de espaço para divulgarem os seus trabalhos.
A edição impressa da Soletras pode ser lida nas bibliotecas do Centro Cultural Português-Beira, do Centro de Língua Portuguesa (localizado na UP-Beira), da Casa Provincial Cultura de Sofala, do Centro Cultural Padre Cirilo, do Auditório Municipal da Beira, e na biblioteca Municipal da Beira.

De salientar que Soletras precisa de mais apoios, para se levar a revista às escolas secundárias da Cidade da Beira.

“Não se pode oferecer obras de arte a quem as pode comprar” - afirma Ministro Dunduro

Ministro Dunduro recebendo estatueta

Se alguém quiser ouvir problemas, que se reúna com artistas. Provavelmente deve ter sido este o pensamento do Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, quando abriu espaço, para que os artistas da Beira interagissem com ele, numa reunião, na casa Provincial de Cultura de Sofala, no dia 13 de Março de 2015.
Prevista para as 14 horas em ponto ― iniciou cerca 30 de minutos depois ― a reunião ficou marcada pela ânsia de muitos artistas, por quererem dirigir ao menos uma palavra ao seu antigo companheiro de “trincheira”, o artista plástico Silva Dunduro, agora Ministro da Cultura e Turismo.
Ansiedade e mais alguma coisa (emoção, certamente) residiam também do lado do Ministro Dunduro. Aliás ele mesmo o disse: “ estou muito feliz por voltarmos a nos ver, até me faltam palavras”. Entretanto, o governante rapidamente pôs razão na emoção, para alcançar mais um dos objectivos que o levavam a escalar o Chiveve:  auscultar os artistas desta urbe, para melhor trabalhar , em prol do bem-estar deles.
O timoneiro do pelouro da Cultura e Turismo começou por dizer que é dos objectivos da sua governação lutar para que os artistas não fiquem sempre de mão estendida a mendigar. Para tal, Dunduro garantiu-nos que iria desafiar os operadores turísticos, sobretudo as unidades hoteleiras, a criarem espaços, para a exposição de trabalhos artísticos, para variados visitantes. “O artista pode ficar rico, à custa do seu trabalho”, acrescentou o ministro.
Entretanto, para já, Silva Dunduro tem uma grande tarefa, que é a organização ministerial, ao nível da base ou provincial, já que se fundiram dois ministérios do governo passado, nomeadamente, o da cultura e o do turismo. E “está em curso a aprovação de diplomas, que vão sustentar a criação do nosso ministério”, segundo o governante. 
“Não se pode oferecer obras de arte a quem as pode comprar”
Aberto o espaço para os artistas exporem as suas preocupações ao ministro Dunduro, falou o coordenador de uma associação de escultura, a funcionar nas instalações da Casa Provincial de Cultura de Sofala. Segundo este coordenador, a associação recebeu apoios do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC), para formar mais escultores. Com efeito, já surgiu pelo menos um jovem, de quem o ministro Dunduro recebeu de “presente” uma estatueta, com um camponês de enxada ao ombro.
Depois de o jovem revelar ao ministro o significado e o valor monetário da obra, eis que o governante decide pagar o “presente”, antes advertindo o presenteador: “não se pode oferecer obras de arte a quem as pode comprar”. A sala gelou, mas eu, o repórter escalado para cobrir o evento, nem pouco, pois já conhecia a alma artística, que reside naquele senhor, que sempre soube valorizar a arte.
Os artistas estão a abandonar a arte, para serem sapateiros ou pedreiros
Certamente, não foi aos sapateiros profissionais que o actor Apingar, o doutor, quis referir-se, quando chegou a sua vez de falar ao ministro. É que o Doutor Apingar enfurecido desabafou que há falta de apoio financeiro para as iniciativas culturais, e que há muita demora, na tramitação de documentos, para a criação de associações: “para criar-se uma associação cultural, leva-se muito tempo. Nós, para criar a nossa associação, tivemos que gastar muito dinheiro, para ir a Maputo, mas agora, que temos a associação, não conseguimos fazer o uso da mesma.” - disse o Doutor Apingar, para depois perguntar : “como posso eu ter dinheiro, para sustentar essa associação?”
Este encenador e actor de teatro foi mais longe, ao asseverar que, na Beira, está difícil viver da arte. Segundo Apingar, existem muitos artistas que estão a abandonar a arte, porque se chega a uma fase, em que esta nos engasga (…). “Há artistas que se estão a tornar sapateiros ou pedreiros, pois não dá viver da arte.”     
As editoras devem voltar a receber músicas
Pirataria, se preferirem contrafacção, é um assunto quase sempre presente em uma reunião, em que estejam músicos. Esta reunião não fugiu à regra. Jorge Mamade, um conceituado músico, foi quem fez vir à baila o assunto. Mas, por incrível que pareça, o músico não atribui culpas aos “piratas”, ou “revendedores”, como ele prefere chamá-los. Segundo ele, há pessoas que querem comprar o disco original de um músico, mas não encontram locais para tal, pois já não existem editoras musicais, bem como as suas sucursais pelas províncias.
Portanto, para se reverter o cenário, o músico apela às editoras, para que “voltem a receber músicas e a distribuí-las pelas suas sucursais, que devem também voltar a funcionar, em todas as províncias”.   
Criação de Banco da Cultura
Como as inúmeras perguntas e comentários apresentados pelos artistas precisavam de resposta ou de comentário do ministro Dunduro, o mesmo cumpriu o seu dever. E começou por desaprovar a tendência, que muitos artistas têm, de ver o ministério da cultura como pai dos artistas: “ é preciso que não vejamos o governo na perspectiva paternalista. Ou seja, o Ministério da Cultura e Turismo como pai dos artistas ou promotores turísticos”
Mais adiante, o ministro disse que é preciso ver que a maior parte dos problemas apresentados pelos artistas podem ser resolvidos por eles mesmos, de forma individual ou colectiva. “É preciso que nós tenhamos um sentido muito grande de responsabilidade individual e colectiva, e pensar que a única forma de ultrapassar desafios, parte de nós próprios”, disse o governante, para, de seguida, apelar: “temos que nos esforçar em deixar a imagem de mendicidade, para uma acção proactiva ao desenvolvimento”.    

 Por fim, sobre iniciativas em curso, para além da abertura a projectos culturais, através das casas provinciais de cultura e do FUNDAC, o ministro garantiu que, dentro deste quinquénio, vai ser criado o banco da cultura, para financiar projectos culturais rentáveis, que permitam o reembolso do dinheiro emprestado. (Dany Wambire)

CARNAVAL

Pe. Manuel Ferreira



Na praça de tu pensares
que jogas ao bem e ao mal,
barulhos e vãos pesares
divertem-se ao Carnaval.

Alegóricas rainhas,
entre o medo e a brincadeira,
vão esconder-se mesquinhas
sob as folhas da figueira.

Dançarinas de ser gente,
onde só por fora vale,
chafurdam candidamente, 
na asneira torrencial.   

Máscaras cor de vazio,
em caras de se ter dó,
agitam o calafrio

de o rei da festa estar só.