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| Pe. Manuel Ferreira |
Quem, em Moçambique, sabe português,
para poder publicar livros, não escreve vi-lhe, mas escreve vi-o ou vi-a, nem escreve encontrei-lhe, mas escreve encontrei-o ou encontrei-a, não escreve diga o que pensas, mas escreve diz o que pensas, nem escreve faça o que eu te digo, mas escreve faz o que eu te digo. Quem quiser escrever como deve ser, tem que estudar a gramática. E,
como até a Bíblia diz, in principio erat verbum, no princípio, está o verbo! A começar pelo imperativo!
Alguém, porém, poderia observar-me que Jorge Amado é um
grande escritor, e escreve vi-lhe. Jorge Amado é um grande escritor, sim, mas seria bem maior, se
escrevesse num português sem erros, como fazem os nossos escritores
moçambicanos confirmados. Erro é sempre erro. E se for erro cometido por um
grande, nem por isso se livra de o ser, antes, pelo contrário, torna-se erro
maior. Como dizia Frei Luís de Sousa, os erros
dos grandes são erros a cavalo. O Nobel
colombiano Gabriel García Marquez, em Viver para
contá-la, recorda-nos que a sua Editora se via à
nora, com tantos erros, com que ele escrevia. Decerto que não foi pelos erros,
mas apesar dos erros, que ele chegou ao prémio Nobel da Literatura.
Se um italiano ou um francês traduzir Jorge Amado, quando
chegar ao vi-lhe, vai
traduzir com l’ho visto (vi-o) e je l’ai vu (vi-o). Nunca traduzirá por io gli ho
visto(vi-lhe) nem je lui ai vu. Nem o italiano nem o francês
suportariam tal horror gramatical. Portanto, ao traduzirem Jorge Amado, eles
corrigem-no. Escrevem, em suas línguas, de chegada, o que o escritor devia ter
escrito na sua, de partida. José Saramago e Paulina Chiziane dão muito menos
trabalho aos tradutores !
Se a mim me aparecesse Jesus Cristo (como parece que
aparece a Osvaldo das Neves !) e me dissesse eu vi-lhe, juro palavra de honra que eu lhe
faria esta oração: Eu creio que sois verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Enquanto verdadeiro Deus, sabeis tudo. Mas, enquanto verdadeiro homem, não
sabeis tudo, porque não sabeis a gramática da língua portuguesa!
JANEIRO é Januário. E Januário vem do latim ianua, que significa PORTA. O primeiro mês do ano é a porta de
entrada num Ano Novo. Ainda que um tanto atrasado, desejo a todos Boas Entradas, Feliz Ano Novo!

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