O ano de 2014 já se despediu.
Com ele, vão os insucessos, e connosco, ficam as glórias. Aqui nos propusemos
recuar no tempo, abrindo as suas preciosas gavetas, para de lá tirarmos os
feitos dos que, de mãos dadas, caminham com a literatura. A moçambicana particularmente.
Janeiro
Mês de
ressaca. A Literatura, por tabela, se foi ressentindo da ressaca dos seus
fazedores. Sendo altura de traçar planos anuais, poucas foram as realizações.
Dessas poucas, tivemos a atribuição do Prémio BCI, edição de 2013, ao escritor
Ungulani Ba Ka Khosa, em virtude de a sua Entre as
memórias silenciadas ter sido considerada a melhor obra
do ano.
Também neste mês
assistimos ao surgimento de mais uma revista literária, à qual os idealizadores
deram o nome de Soletras – A sopradora de letras. Era mais um grupo de jovens, à semelhança dos da Literatas e do jornal Pirâmides, que decidia praticar activismo
literário, através da edição de um jornal. Uma nota importante é que este novo
grupo era de fora da capital Maputo. Era do coração de Moçambique, da cidade da
Beira.
Fevereiro
Boa notícia nos
veio de fora. Os escritores Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khosa foram
condecorados pelo Estado português, em reconhecimento da importância das suas
obras. Os dois autores foram reconhecidos com o grau de Grande Oficial da Ordem
do Infante D. Henrique, condecoração atribuída a personalidades, que tenham
prestado serviços a Portugal, no país ou no estrangeiro.
Também em Fevereiro, o jovem Lino
Mukurruza galga milhas, corta matas e atravessa rios, saindo lá da província
nortenha do Niassa, com destino à capital Maputo, hospedada no sul do País,
para lá manifestar as suas Vontades de
partir & Outros Desejos. Uma obra em
verso, patrocinada pelo Fundo de Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC).
Março
Neste mês, a escritora
Fátima Langa lança mais uma colectânea de contos infantis, intitulado O Leão, a Mulher e a Criança. Com todo o
mérito, a escritora chega a ser convidada para participar, semanas depois,
ainda dentro do mesmo Março, no XI Encontro Internacional de Escritoras (EIDE),
havido na cidade capital brasileira, Brasília. Neste encontro, também
representou Moçambique a escritora Márcia dos Santos.
Ainda dentro de
Março, mais uma jovem se “voluntariava” a engrossar o grupo das escritoras,
ainda demasiado pequeno. Chama-se Lídia Mussá, e brindou-nos com um conjunto de
relatos de mulheres possuídas, ou que já foram possessas, de maridos
espirituais.
Abril
Abril abria com o
FUNDAC a patrocinar a edição de mais uma obra literária. Também de um jovem,
Nelson Lineu, que decide hospedar todos em cada um em
Mim. Era mais um sucesso de alguém, que se
entregara ao activismo literário, através do movimento literário Kuphaluxa.
Neste Abril, sai
também, mas sem patrocínio nenhum, o livro de ensaios O cruzamento de linhas paralelas, um livro
produzido de forma artesanal. É da autoria de José dos Remédios e Nelson
Manhice.
Em Abril, também
houve lugar para uma pausa. Uma pausa, para digerir um luto de tamanho mundial. Morre, neste mês, o escritor colombiano
Gabriel Garcia Marquez, Prémio Nobel de Literatura 1982.
Lançaram-se três
livros de poesia, num só dia. Não foram dois, foram três os coelhos matados com
uma só cajadada. Eram livros chancelados pela Ndjira. Nomeadamente: A mão invisível que não é de Adam Smith, de Thahula Ndindane; O porto da
Luzes, de Chagas Levene; Frenesim: Poesia em Pétala de Lume, de Eusébio Sanjane.
Maio
Um dos assuntos que
deram que falar, em Maio de 2014, foi a palestra proferida pela professora e
crítica literária Fernanda Angius. Nesta palestra, a professora alertou para o
perigo de se preferir a Tv em detrimento dos livros. Na sua opinião, “A Tv não forma discurso, não cria
magia, não cria tecido social”. Mais audaz, a palestrante mencionou os
escritores bons e os fracos.
Foi igualmente em Maio que a cidade de Nacala Porto viveu um momento
incomum, ao assistir ao lançamento de uma obra literária. Era Emmy Xyx, que
alegrava Nacala, com a sua terceira obra De Sol Acções A Sol Unções.
Junho
Junho, o mês da
criança, começa com o nascimento do movimento literário Kulemba, “mãe” da Revista Soletras, que nascera em Janeiro. Isso
mesmo! A mãe nasceu depois da filha. Jovens decidem dar o corpo à luta para
também dar visibilidade à literatura beirense.
Também em Junho,
Beira assiste à apresentação de A Mão
invisível que não é Adam Smith, um livro de
poesia, cujo teor dos versos nos faz recordar os problemas do Moçambique
pós-independência e do mergulhado na guerra dos 16 anos.
Neste mês,
igualmente foi conhecido o vencedor do prémio Camões, edição de 2013. O poeta,
ensaísta e historiador brasileiro Alberto da Costa e Silva leva o prémio para
casa.
Enfim, vinha a público Dentro da pedra ou a metamorfose do silêncio, de Japone Arijuane. E mais uma vez era o FUNDAC a patrocinar a
edição de mais uma obra.
Julho
Este mês é especial
para a literatura e para o escritor Adelino Timóteo. Pela primeira vez, é
publicado na Europa. E, a partir do chamado velho continente, o escritor
anuncia o Apocalipse dos predadores. E o seu amigo padre Manuel Ferreira, o das manias linguísticas, testemunhou
esse apocalipse.
Em Julho, morre um
Nobel africano da Literatura. Desta vez, foi a escritora sul-africana Nadine
Gordimer, Prémio Nobel da Literatura 1991.
Ainda em Julho, eram distinguidos, com
o Prémio Nósside 2013, os jovens escritores Heliodoro Baptista Júnior, Hera de
Jesus, Izidine Jaime, Hirondina Joshua e Leco Nkhululeco.
Agosto
Uma pausa demorada,
para a literatura moçambicana. Quase tudo parou, para se lamentar a morte de
Eduardo White. O poeta perdeu a vida, no dia 24 de Agosto, no Hospital Central
de Maputo, vítima de doença, quando se preparava para a cerimónia de lançamento
do livro Bom Dia, Dia, chancelado pela editora portuguesa Edições
Esgotadas.
Setembro
O escritor
Osvaldo das Neves, através de uma editora artesanal, vem exibir a sua qualidade literária,
brindando o público-leitor com A vingança de
Jesus Cristo.
E em Setembro,
alguém mais morre. É o historiador José Capela, que perdeu a vida vítima de
doença.
Neste mês, também
se celebraram condignamente os 50 do clássico Nós matamos o
cão tinhoso de Luís Bernardo Honwana.
Aqui em Setembro,
os jovens escritores sentiram-se frustrados, pois o concurso TDM 2014 terminava
sem vencedores. Houve murmúrios, que não deram em nada. Os que sabem diagnosticaram: a jovem literatura
está medíocre. Se era verdade, o tempo é que no-lo vai confirmar.
Outubro
O vencedor do Nobel
de Literatura de 2014 é o francês Patrick Modiano, “pela arte da memória, com a
qual evocou os destinos humanos mais incompreensíveis e descortinou ao mundo a
vida na ocupação”, segundo uma nota postada, no sítio oficial da academia
sueca, sediada na capital Estocolmo.
Mia Couto recebe
mais um prémio. Desta vez, foi nos Estados Unidos da América. Prémio
Internacional de Neustadt foi o que o nosso Mia ganhou.
Em Outubro, igualmente, Dany Wambire
cansou-se de bater a portas “surdas”, por patrocínio, e endivida-se, para ver
publicada a sua A adubada fecundidade e outros
contos. E consegue. O livro sai, mesmo produzido
de forma independente.
Novembro
Algo inédito acontece:
uma editora livresca moçambicana institui um prémio literário. Os jovens
agradeceram, e esperam que iniciativas do género se estendam por mais editoras.
O Fundac
fecha em grande. Mais três livros saem patrocinados por ele. São eles: o Prédio 333, de Helga Languana, Jasmins e Chambre de
Matiangola e As vozes das minhas entranhas de Deusa D’África.
Dezembro
O prémio José Craveirinha, edição de 2014, é atribuído a Luís Bernardo
Honwana, e gera-se debate, nas redes sociais, sobre a elegibilidade ou não do
autor.
Eduardo Quive, o agitador cultural, sempre fintando as instituições, que “controlam” a literatura moçambicana, é
convidado para participar da feira do livro de Fortaleza, no Estado de Ceará,
Brasil. (Redacção)
