Escritos de muitos estão
nas gavetas. Os textos apenas circulam nos quartos daqueles que os escreveram
com tanto prazer e amor. No entanto, esses mesmos textos acabam amarrotados e/ou
perdidos de tanto armazenamento. Acreditamos que existem muitos jovens neste
vasto país que diariamente têm estado empenhados em trabalhos artísticos
diversos, nomeadamente na música, no teatro, na pintura, na tecelagem, na
literatura (obviamente), mas não são conhecidos e têm poucas oportunidades para
o serem.
Se esses jovens
continuam no anonimato não é por não fazerem trabalhos de qualidade e sim por
não lhes serem dadas as oportunidades e possibilidades de poderem singrar na
arte que têm vindo a desenvolver. A saída do anonimato de novos escritores ou
leitores passa necessária e exclusivamente pela criação e promoção de espaços
onde os jovens possam inteligentemente expressar as suas ideias e os seus dotes.
Isso tem que mudar! É um imperativo que se encontrem cada vez mais
oportunidades para os jovens poderem mostrar e demonstrar tudo aquilo que
melhor sabem fazer.
Foi a pensar em
tudo isso que decidimos avançar com a presente proposta. Ela não é nova, vem
juntar-se à Literatas (em hibernação?) e ao jornal Pirâmide, algumas das poucas
que têm sido promovidas com muito esforço pelos chamados jovens da “viragem”,
tentando “virar” todas as coisas não muito agradáveis que acontecem um pouco
por todo o nosso país a seu favor, através da criação de espaços como
associações de jovens, seminários e colóquios, jornais, revistas, todos eles
com fins literários.
A fundação da
revista Soletras também vem
responder a essa falta de espaços e órgãos de que os jovens escritores,
principiantes e aspirantes há muito precisavam como forma de continuarem a
alimentar o seu vício de escrita, pois acreditamos que para eles se manterem
vivos com a “doença” que os apoquenta necessitam de um lugar onde possam encontrar
incentivos, conselhos e estimulantes.
A sopradora de letras vem para ser uma
revista de divulgação de trabalhos literários de novos leitores e escritores há
muito condenados ao anonimato e vedados do direito de expressão dos seus mais
profundos sentimentos e pensamentos. Portanto, a Soletras não vem falar dos que já têm espaço. Ela vem promover a
distribuição equitativa da riqueza (entenda-se literária) ou reduzir o fosso
entre os renomados e os anónimos.
Objectivamos isso
porque existem muitos jovens anónimos que escrevem com muito jeito e talento. Mas
uma obra, por mais bela que seja, não tem valor se não for apreciada pelos
outros, o público. Por essa falta de apreciação e valorização dos seus
trabalhos, muitos jovens acabam por parar de escrever ou desistir desta arte.
Porque este “vírus”
de escrita precisa de crescer, aqui estamos nós e sem parar sopraremos as
letras por todos os cantos do mundo, mesmo por onde não houver “buracos”, pois
elas não podem ser aprisionadas por ninguém, e contaminaremos assim a cada vez mais
pessoas, quer queiram quer não. Queremos, através do sopro, tirar das “instituições
prisionais domésticas” todas as letras que se encontram “detidas”. Este é o espaço
de todos aqueles que forem injustamente condenados ao anonimato e suas letras “aprisionadas”.
A nossa
visão é de que através desta revista possamos promover o debate, o intercâmbio
do conhecimento literário entre jovens leitores, escritores, académicos e outros,
bem como a difusão dos seus trabalhos a um público mais alargado possível, quer
seja ou não especializado.
Com a
crescente dificuldade de publicação de livros por parte de novos escritores
neste país, é objectivo da revista Soletras facilitar, a médio e longo prazo, a
edição de trabalhos e de autores com dificuldades de publicação. Esse trabalho
será feito através da publicação dos textos em antologias e outras edições do
género.
Bem-haja
a literatura moçambicana!
Cremildo da Cruz
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