sábado, 22 de fevereiro de 2014

Editorial da 1ª Edição - Com licença!



                                                               
Escritos de muitos estão nas gavetas. Os textos apenas circulam nos quartos daqueles que os escreveram com tanto prazer e amor. No entanto, esses mesmos textos acabam amarrotados e/ou perdidos de tanto armazenamento. Acreditamos que existem muitos jovens neste vasto país que diariamente têm estado empenhados em trabalhos artísticos diversos, nomeadamente na música, no teatro, na pintura, na tecelagem, na literatura (obviamente), mas não são conhecidos e têm poucas oportunidades para o serem.
Se esses jovens continuam no anonimato não é por não fazerem trabalhos de qualidade e sim por não lhes serem dadas as oportunidades e possibilidades de poderem singrar na arte que têm vindo a desenvolver. A saída do anonimato de novos escritores ou leitores passa necessária e exclusivamente pela criação e promoção de espaços onde os jovens possam inteligentemente expressar as suas ideias e os seus dotes. Isso tem que mudar! É um imperativo que se encontrem cada vez mais oportunidades para os jovens poderem mostrar e demonstrar tudo aquilo que melhor sabem fazer.
Foi a pensar em tudo isso que decidimos avançar com a presente proposta. Ela não é nova, vem juntar-se à Literatas (em hibernação?) e ao jornal Pirâmide, algumas das poucas que têm sido promovidas com muito esforço pelos chamados jovens da “viragem”, tentando “virar” todas as coisas não muito agradáveis que acontecem um pouco por todo o nosso país a seu favor, através da criação de espaços como associações de jovens, seminários e colóquios, jornais, revistas, todos eles com fins literários.
A fundação da revista Soletras também vem responder a essa falta de espaços e órgãos de que os jovens escritores, principiantes e aspirantes há muito precisavam como forma de continuarem a alimentar o seu vício de escrita, pois acreditamos que para eles se manterem vivos com a “doença” que os apoquenta necessitam de um lugar onde possam encontrar incentivos, conselhos e estimulantes.
A sopradora de letras vem para ser uma revista de divulgação de trabalhos literários de novos leitores e escritores há muito condenados ao anonimato e vedados do direito de expressão dos seus mais profundos sentimentos e pensamentos. Portanto, a Soletras não vem falar dos que já têm espaço. Ela vem promover a distribuição equitativa da riqueza (entenda-se literária) ou reduzir o fosso entre os renomados e os anónimos.
Objectivamos isso porque existem muitos jovens anónimos que escrevem com muito jeito e talento. Mas uma obra, por mais bela que seja, não tem valor se não for apreciada pelos outros, o público. Por essa falta de apreciação e valorização dos seus trabalhos, muitos jovens acabam por parar de escrever ou desistir desta arte.
Porque este “vírus” de escrita precisa de crescer, aqui estamos nós e sem parar sopraremos as letras por todos os cantos do mundo, mesmo por onde não houver “buracos”, pois elas não podem ser aprisionadas por ninguém, e contaminaremos assim a cada vez mais pessoas, quer queiram quer não. Queremos, através do sopro, tirar das “instituições prisionais domésticas” todas as letras que se encontram “detidas”. Este é o espaço de todos aqueles que forem injustamente condenados ao anonimato e suas letras “aprisionadas”.
A nossa visão é de que através desta revista possamos promover o debate, o intercâmbio do conhecimento literário entre jovens leitores, escritores, académicos e outros, bem como a difusão dos seus trabalhos a um público mais alargado possível, quer seja ou não especializado.
Com a crescente dificuldade de publicação de livros por parte de novos escritores neste país, é objectivo da revista Soletras facilitar, a médio e longo prazo, a edição de trabalhos e de autores com dificuldades de publicação. Esse trabalho será feito através da publicação dos textos em antologias e outras edições do género.
Bem-haja a literatura moçambicana!
Cremildo da Cruz


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