sábado, 22 de fevereiro de 2014

BREVES NOTÍCIAS LITERÁRIAS

Abel Jovo abre “Os 7 pecados capitais”

Texto: Redacção

Já saiu a antologia intitulada “os 7 pecados capitais”, organizado por edições AG e o poeta moçambicano Abel Afonso Joaquim Jovo é quem abre o livro, editado no Brasil, com os seus quatro poemas seleccionados no XXXVIII Concurso Internacional.
O primeiro poema antologiado de Jovo intitula-se ‘’ Fala-se De amor”. E os outros três são “Há Um lugar Discreto”; “Desconhecida” e “Vestígio”.
Abel Jovo reside em Inhambane, sul do país. Em 2006, o escritor publicou alguns poemas no INIMIGO, um jornal local.


“Menção Honrosa” para Dany Wambire em Portugal

Texto: Redacção

O jovem escritor beirense Dany Wambire foi distinguido o ano passado com “menção honrosa” no Concurso Internacional José Luís Peixoto, na sua 7ª edição, promovido pelo Município de Ponte de Sor, Portugal.
A obra agraciada pelo júri presidido pelo conceituado escritor José Luís Peixoto é de contos e intitula-se “A adubada fecundidade e outros contos”, que poderá ser publicada por aquele município português nos próximos dias.
 A cerimónia de premiação aconteceu a 15 de Dezembro último no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor.
Esta é a 9ª distinção de Dany Wambire no ano de 2013, curiosamente todas fora do país.
Dany Wambire nasceu a 1 de Junho de 1989. Formou-se em professorado e iniciou a sua carreira de docente no distrito de Machanga (2008), onde se lhe foi diagnosticado o vírus da escrita. O mesmo tem dezenas de textos publicados, entre os anos de 2011, 2012 e 2013 em alguns dos principais jornais do país. 
Actualmente, enquanto escritor, Dany Wambire é professor primário na Beira e estudante finalista do curso de História e Geografia na UP-Beira.


Poetas moçambicanos “avistam-se” numa antologia no exterior

Texto: Redacção

Três poetas moçambicanos foram seleccionados no X Prémio Literário Valdeck Almeida de Jesus – 2013, organizado no Brasil. Trata-se dos Poetas Manusse Manuela, Pré-Destinada e Dany Wambire, seleccionados com os poemas “Meus enganos, vida minha, amor vivo”, “Lágrima” e “As vontades do poeta”, respectivamente.

Manusse Manuela (pseudónimo de José Joaquim Manusse) nascido em 1988, em Xai-Xai, província de Gaza. Actualmente frequenta o curso superior de Filosofia no Seminário Maior Arquidiocesano de Luanda/Angola. Enquanto, a poetisa Amélia Margarida Matavele, ou simplesmente Pré Destinada, nasceu a 08 de Dezembro de 1991 em Maputo e cursa Química, na universidade pedagógica de Moçambique. A poetisa também é membro do movimento literário Kuphaluxa.
Já Dany Wambire, nascido a 1 de Junho de 1989, é professor primário na Beira e estudante finalista do curso de História na UP-Beira.


“Histórias Contadas por Personagens” de Eduardo Quive na “estrada”

Texto: Redacção

Sai brevemente o livro do jovem escritor e jornalista Eduardo Quive, que se intitula “Histórias Contadas por Personagens”. Trata-se de uma obra em que o autor nos traz os depoimentos de cerca de vinte escritores e críticos literários.
Nesse livro, que sairá sob a chancela da editora brasileira Kazuá, Quive registou as conversas que manteve com “escritores angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos e brasileiros, desde os que iniciam a sua publicação nos anos oitenta aos que só se iniciam a partir de 2000”, segundo a editora.
Eduardo Quive, natural da Matola, publicou, em 2012, sob o pseudónimo de Xiguiana da Luz o livro de poemas intitulado “Lágrimas da Vida, Sorrisos da Morte” e foi editor durante dois anos da revista moçambicana e lusófona Literatas. Actualmente, o autor é director da Revista Nós e jornalista cultural numa estação televisiva do país.




Verosimilhança em “Reclusos do Tempo” de Alex Dau

Texto: Dany Wambire



Convém iniciar este texto com a máxima de Julio Cortázar, sugerida pela ensaísta Daniela Reyes (2008): “... cada livro realiza a redução verbal de um pequeno fragmento da realidade...”.  Com efeito, o afirmado por Cortárzar verifica-se em Alex Dau, jovem escritor moçambicano, concretamente no seu livro de contos, intitulado “Reclusos do Tempo”, editado pela AEMO, em 2009. 
Entretanto, antes que nos deixemos emocionar com o âmago da escrita de Alex Dau, temos que trazer o conceito de verosimilhança, no geral, e adaptado à literatura, em particular. No geral, verosimilhança  é a qualidade ou o carácter do que é verosímil ou verosimilhante; e verosímil o que é semelhante à verdade, que tem a aparência do verdadeiro, que não repugna à verdade provável (Alonso, 2013).
Na literatura, o estudo de verosimilhança remete-nos de imediato à mimese, conceito inicialmente trabalhado por Platão. Segundo este filósofo, citado pela professora L. Costa (2006), mimese era um tipo de produtividade que não concebia objectos originais, mas apenas cópias, que estavam afastados da “realidade”.
E como a arte, para Platão, tinha origem divina e misteriosa, portanto, a mimese deveria participar do ser originário, “imitando” em seu conteúdo a realidade das formas e ideias, o que faria pouco provável a sua ocorrência, motivo pelo qual este filósofo defendeu que a mimese era falsa, ilusória e prejudicial ao discurso ideal do filósofo. (Costa, 2006).
Esta proposição de Platão, é refutada por Aristóteles, o qual, para consubstanciar o processo mimético, assevera o seguinte: a arte é afastada da perfeição, da divindade e não está mais restrita a representação do mundo exterior. Para Aristóteles, a mimese poderia ser apoiada em verosimilhança, a qual lhe permitia afirmar: "não é ofício do poeta narrar o que aconteceu, e sim o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verosimilhança e a necessidade", (Aristóteles apud Sepúlveda, 1992).
Outrossim, na literatura, o escritor pode comportar-se como um ladrão, roubando algo que é do mundo ou da realidade (mas que não é guarnecido por ninguém) para lhe servir como mote, caminho que o leve ao imaginário. E esse exercício cria-nos uma felicidade extraordinária, que é justificada por Daniela Reyes:

Furtar o que já está no mundo (…), de maneira que o objeto deste furto se torne o mote do escritor para contar novas histórias, parece dar, a nós leitores, ao reconhecermos esse objeto durante a leitura, uma sensação tão libertadora quanto a surpresa de ver uma nova composição”.

Em “Reclusos do Tempo” de Alex Dau, a verosimilhança estabelece-se de duas maneiras: a semelhança que os factos narrados têm com a realidade e a credibilidade que os elementos do imaginário da obra demonstram em relação ao mundo de ficção apresentado. Os contos “Babalaza de Lisboa” e “Contra-Ataque” são elucidativos das duas formas de verosimilhança. No primeiro (pags. 13-15), Dau descreve a infelicidade do moçambicano Anselmo, em Lisboa, por não ter tido o petisco preferido para matar a babalaza, o que o faz ir às barracas do museu, na cidade de Maputo, logo depois de aterrar no Aeroporto Internacional de Maputo ― antes mesmo de ir à casa para mudar de roupa.  
No segundo, quanto a nós, o mais belo conto ficcionado de Dau, pela surpresa que nos afronta no final do mesmo, a ser-nos causada por um estranho personagem, o narrador autodiegético vê a sua casa assaltada por um “ladrão”, às 2 horas de madrugada, o qual faz investidas destemidamente. E o dono da casa apercebendo-se da presença do “ladrão”, aplaca-se por cerca de 45 minutos para apanhá-lo em flagrante. E consegue, derrubando-o mortalmente. Depois, ao invés de ficar preocupado com o assassinato que acabara de praticar, volta a deitar-se na cama, orgulhoso de ter agido em legítima defesa, deixando a vítima estirado sobre o soalho da casa.
Mas o engraçado, soubemo-lo nas linhas posteriores: não se tratava dum inimigo vulgar (um salteador), mas dum mosquito, que queria matá-lo transmitindo-lhe uma malária perigosa.     
O título escolhido para nomear o livro (também é titulo de um dos contos) traduz na íntegra aquilo que é a nossa condição vivencial, reclusos ou presos dessa majestosa cadeia que é o tempo. E o poder do tempo em prender, em concomitante, inúmeras pessoas já tinha sido previsto pelo historiador Marc Bloch, citado por Mendes (1993), ao afirmar que a história é “ciência dos homens no tempo”. Mesmo nos dias de hoje, os vulgares criminosos e condenados, nas cadeias, preocupam-se mais com o tempo de prisão, do que com as condições (óptimas ou péssimas) do espaço de reclusão.
A temática nos 12 contos que compõem “Reclusos do Tempo” é do quotidiano e/ou do passado recente de Moçambique. As suas estórias são “pescadas” do grande universo inspirador, fazendo com que a sua literatura traduza fielmente o proposto por Chklovski, “a arte como a singularização de momentos importantes”.
De forma breve, vejamos o teor de alguns textos. O primeiro, intitulado “A terceira noite”, aborda a (in)felicidade de Mudumela na cerimónia de casamento, cuja lua-de-mel não foi abençoada pela prática de amor, pois a parceira de Mudumela, na véspera, acabara de ficar menstruada. Todavia, Mudumela teve o pronto-socorro duma “Striper”, Marta, e posteriormente cogitou a possibilidade de ser polígamo por seguinte razão: “sempre uma podia substituir a outra, quando uma delas estivesse menstruada” (Dau, 2009, p. 7).
No terceiro conto, “ A vítima”, o autor fala do trágico fim de um assassino (Macamito). O conto “o Fracasso de N’dani”, aborda a força do amor de Samage, a qual o fez lutar com um leão espiritual pela posse de Malia, a moça bonita.
A escrita com que Alex Dau cose a indumentária dos seus textos é um misto de linguagem poética e prosaica, fazendo lembrar a escrita de Mia Couto, em que a prosa é objectivo e a poesia o método para conduzir o leitor à mensagem ou destino ― às vezes, não existindo a querida mensagem ou destino, restando-nos apenas a bela viagem. Esta escrita chega a ser “turística”, cujo destino é o próprio caminho que se percorre: “O silêncio nocturno foi baleado por uma ‘makarov’. Duas balas vaguearam pelo bairro à procura de seu alvo, depois uma ‘akm’ matraqueou, impondo o vigor de seu calibre” (Dau, 2009, p. 41).

Referências bibliográficas
COSTA. A poética de Aristóteles – Mímese e verossimilhança. Edição Revista. SP. Ática, 2006.
DAU, Alex. Reclusos do Tempo. Maputo. AEMO, 2009.
MENDES, José M. Amado. A História Como Ciência: Metodologia e Teorização. 3ª Edição. Coimbra: Coimbra editora, 1993.
REYES, Daniela. “A Verossimilhança em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis”. Revista Eutomia. Ano I – Nº 01 (614-620).
SEPULVEDA, Carlos. Verossimilhança e diferença: a ordem do discurso narrativo e a modernidade; In: “VII Encontro Nacional da ANPOLL”, Porto Alegre. 1992.



Editorial da 1ª Edição - Com licença!



                                                               
Escritos de muitos estão nas gavetas. Os textos apenas circulam nos quartos daqueles que os escreveram com tanto prazer e amor. No entanto, esses mesmos textos acabam amarrotados e/ou perdidos de tanto armazenamento. Acreditamos que existem muitos jovens neste vasto país que diariamente têm estado empenhados em trabalhos artísticos diversos, nomeadamente na música, no teatro, na pintura, na tecelagem, na literatura (obviamente), mas não são conhecidos e têm poucas oportunidades para o serem.
Se esses jovens continuam no anonimato não é por não fazerem trabalhos de qualidade e sim por não lhes serem dadas as oportunidades e possibilidades de poderem singrar na arte que têm vindo a desenvolver. A saída do anonimato de novos escritores ou leitores passa necessária e exclusivamente pela criação e promoção de espaços onde os jovens possam inteligentemente expressar as suas ideias e os seus dotes. Isso tem que mudar! É um imperativo que se encontrem cada vez mais oportunidades para os jovens poderem mostrar e demonstrar tudo aquilo que melhor sabem fazer.
Foi a pensar em tudo isso que decidimos avançar com a presente proposta. Ela não é nova, vem juntar-se à Literatas (em hibernação?) e ao jornal Pirâmide, algumas das poucas que têm sido promovidas com muito esforço pelos chamados jovens da “viragem”, tentando “virar” todas as coisas não muito agradáveis que acontecem um pouco por todo o nosso país a seu favor, através da criação de espaços como associações de jovens, seminários e colóquios, jornais, revistas, todos eles com fins literários.
A fundação da revista Soletras também vem responder a essa falta de espaços e órgãos de que os jovens escritores, principiantes e aspirantes há muito precisavam como forma de continuarem a alimentar o seu vício de escrita, pois acreditamos que para eles se manterem vivos com a “doença” que os apoquenta necessitam de um lugar onde possam encontrar incentivos, conselhos e estimulantes.
A sopradora de letras vem para ser uma revista de divulgação de trabalhos literários de novos leitores e escritores há muito condenados ao anonimato e vedados do direito de expressão dos seus mais profundos sentimentos e pensamentos. Portanto, a Soletras não vem falar dos que já têm espaço. Ela vem promover a distribuição equitativa da riqueza (entenda-se literária) ou reduzir o fosso entre os renomados e os anónimos.
Objectivamos isso porque existem muitos jovens anónimos que escrevem com muito jeito e talento. Mas uma obra, por mais bela que seja, não tem valor se não for apreciada pelos outros, o público. Por essa falta de apreciação e valorização dos seus trabalhos, muitos jovens acabam por parar de escrever ou desistir desta arte.
Porque este “vírus” de escrita precisa de crescer, aqui estamos nós e sem parar sopraremos as letras por todos os cantos do mundo, mesmo por onde não houver “buracos”, pois elas não podem ser aprisionadas por ninguém, e contaminaremos assim a cada vez mais pessoas, quer queiram quer não. Queremos, através do sopro, tirar das “instituições prisionais domésticas” todas as letras que se encontram “detidas”. Este é o espaço de todos aqueles que forem injustamente condenados ao anonimato e suas letras “aprisionadas”.
A nossa visão é de que através desta revista possamos promover o debate, o intercâmbio do conhecimento literário entre jovens leitores, escritores, académicos e outros, bem como a difusão dos seus trabalhos a um público mais alargado possível, quer seja ou não especializado.
Com a crescente dificuldade de publicação de livros por parte de novos escritores neste país, é objectivo da revista Soletras facilitar, a médio e longo prazo, a edição de trabalhos e de autores com dificuldades de publicação. Esse trabalho será feito através da publicação dos textos em antologias e outras edições do género.
Bem-haja a literatura moçambicana!
Cremildo da Cruz